José Maria Ricciardi: ‘Rio à gargalhada quando se fala em dinheiro da Guiné Equatorial no Sporting’

    

A paixão pelo Sporting impede-o de assistir aos jogos na tribuna, para ‘não fazer figuras’. Está contente com Jesus e garante que não há fundos africanos a financiar o clube.

Gostou da transferência de Jorge Jesus para o Sporting?

Estou contentíssimo. O Sporting tem um treinador extraordinário e passou a ser um verdadeiro candidato ao título. Ganhou sete campeonatos nacionais nos últimos 50 anos. E apesar de ser um clube grande e nacional – eu sei que há outros clubes que acham que devíamos deixar de ser grandes -, se ganhar sete campeonatos nos próximos 50 anos deixará de ser um clube grande. A nova geração deixará de ser do Sporting se não ganhar 16, 17 ou 18 campeonatos – já não digo 50, que era o meu sincero desejo. Mas acho que o clube está nesse caminho, de conseguir voltar a jogar de igual para igual com os outros clubes grandes. Estou muito contente com isso.

E como comenta as críticas à situação financeira do Sporting?

Rio-me às gargalhadas quando se fala em dinheiro da Guiné Equatorial. No Sporting nunca ninguém falou com alguém da Guiné Equatorial. Não tenho nada contra a Guiné Equatorial, mas nunca lá fui, nem conheço o país. Sobre o Dr. Álvaro Sobrinho e os dinheiros angolanos, já se explicou que não foi só ele, foi uma empresa que emprestou o dinheiro ao Sporting, com um conjunto de passes, que depois libertou, num ato de grande sportinguismo. Libertou os passes e transformou isso em capital e desde aí – isso já foi muito lá para trás – nunca mais houve fundos vindos de Angola, seja do Dr. Sobrinho ou seja de quem for. Farto-me de rir quando depois desta transferência se está sempre a dizer ‘bom, mas isto deve ter a ver com movimentos estranhíssimos de dinheiro’.

Mas o próprio BESI está envolvido nesses rumores.

É ridículo porque o BESI não contratou o Jorge Jesus. Havia uns jornalistas que questionavam pelas garantias bancárias para a contratação. Mas quais garantias bancárias? Um treinador quando vai para um clube recebe mês a mês. Não há garantias bancárias – nem para o Jorge Jesus nem para os jogadores do Sporting.

E qual foi então o seu ato de grande sportinguismo?

Eu tento servir o Sporting independentemente dos presidentes que lá estão. E é outra coisa que faz muita confusão. Há pessoas para quem o mais importante não é o clube, mas as pessoas que lá estão. E eu às vezes posso gostar menos ou mais das pessoas, mas o clube passa à frente. Portanto, continuo a tentar apoiar o Sporting dentro das minhas possibilidades. Aliás, este banco apoiou o Sporting na emissão de dívida, mas não é por ser o Sporting. Ainda agora o banco trabalhou na emissão de obrigações do Benfica. Este banco não tem um estatuto especial para apoiar o Sporting, apoia seja o que for, não há aqui clubismos.

Mas influencia as decisões do clube?

Tenho as minhas opiniões, mas não dou porque sou adepto de bancada. Aliás, nem me comporto muito bem – tenho de estar um bocado escondido, para não fazer figuras… não posso ir para as tribunas. Do ponto de vista da área financeira, aí sim, às vezes perguntam as minhas opiniões. Agora, nunca fui negociar fundos da Guiné Equatorial. Nem eu nem ninguém do Sporting.

É um hooligan nas bancadas?

Também não tanto [risos]. O próprio presidente também já me disse que é um forte leão nas tribunas. Mas se uma pessoa está na tribuna e a equipa adversária mete um golo ou nós marcamos um golo, e o árbitro rouba-nos:  uma pessoa não pode manifestar-se? Acho isso uma verdadeira tortura chinesa! Prefiro estar o mais escondido possível para poder manifestar-me. O futebol também serve para nos libertarmos dos nossos stresses.

 ‘É preciso uma solução política estável’

A amizade entre José Maria Ricciardi e Pedro Passos Coelho é conhecida e sobreviveu ao colapso do Grupo Espírito Santo. Durante a entrevista ao SOL, o banqueiro reafirma a sua proximidade ao primeiro-ministro, mas recusa indicar um sentido de voto para não fazer «campanha partidária». Para o presidente do Haitong Bank, «o mais importante, e parece que não vai ser fácil, é encontrar uma solução estável de governação para o país».

Ricciardi elogia a recuperação económica, «que parece cada vez mais entusiasmante», mas considera que o país não pode correr o risco de ter outra vez instabilidade governativa.  «Não sei o que irá passar-se a 4 de outubro com os indecisos e se esses votos poderão dar uma maioria absoluta ao PS ou à coligação Portugal à Frente. Mas isso seria o ideal, embora seja difícil acontecer», analisa.

Em relação ao que deve ser o programa do próximo Executivo, o CEO do Haitong é assertivo, pelo menos num ponto: a privatização da Caixa Geral de Depósitos não deve estar na agenda. «Não há razão nenhuma para privatizar a CGD. Nem PSD/CDS nem o PS vão privatizar», acredita.