O objetivo é mostrar que as imagens onde Barbara Guimarães surge com vários hematomas e nódoas negras, que constam no processo, não comprovam que a apresentadora foi vítima de agressão. Ao SOL, fontes próximas do antigo ministro da Cultura do PS adiantam que a peritagem revela que essas marcas são mais consistentes com uma situação de queda.
A defesa de Carrilho – que é acusado pelo Ministério Público de maus tratos físicos e psicológicos à ex-mulher, quer provar a instabilidade emocional de Bárbara Guimarães. Por isso, também já pediu a anexação ao processo do relatório de análise psicológica que foi feita à apresentadora no Instituto de Medicina Legal de Lisboa. Essa avaliação, garantem fontes próximas do ex-ministro, revela problemas de ansiedade e descontrolo emocional e foi realizada no âmbito de outro processo que opõe o casal na Justiça: o da guarda dos dois filhos menores.
A esses relatórios a defesa vai ainda juntar centenas de documentos, entre os quais entrevistas em que a apresentadora da SIC falava da relação feliz do casal, que a acusação do Ministério Público (MP) põe em causa.
Dezenas de testemunhas prolongam julgamento
Para o mediático julgamento estão arroladas 40 testemunhas, 20 de cada uma das partes. Os seus depoimentos prometem, aliás, fazer arrastar o julgamento, que arranca a 7 de outubro no Campus de Justiça de Lisboa.
Carrilho, de 64 anos, é acusado pelo MP de agressões físicas e psicológicas à apresentadora de televisão, que por vergonha as escondeu durante vários anos. Bárbara Guimarães, de 42 anos, terá sido mesmo ameaçada de morte com uma faca de cozinha no Verão de 2013, em frente à filha. Aliás terá sido depois do nascimento de Carlota, em 2010, e do regresso de Carrilho de Paris, onde foi embaixador de Portugal na Unesco, que a relação entre os dois se deteriorou, num crescendo de discussões e insultos. Na acusação do MP, são relatados vários episódios de discussões e de violência do socialista contra a apresentadora. O casamento de mais de uma década terminou no final de 2013.
Barbara Guimarães, que é assistente no processo, vai prestar declarações durante o julgamento, tal como prevê o Código de Processo Penal. Já Carrilho, por ser arguido, tem direito a recusar falar ao Tribunal.
Processo ajuda a desmistificar mitos
Num país onde no ano passado morreram 40 mulheres por agressões conjugais, um julgamento envolvendo figuras públicas tem um efeito importante, garante quem acompanha no terreno as vítimas destes crimes.
«Os julgamentos de casos mais mediáticos ajudam a fazer cair por terra alguns mitos», admite Daniel Cotrim, psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
Por um lado, explica, mostram às vítimas de violência que não estão sozinhas e que as agressões entre casais são uma problema que afeta mulheres de todos os extrato sociais. Por outro, ajudam a divulgar informação sobre o problema e a importância de não se esconderem por vergonha ou medo. «Estes casos podem ser muito importantes para que as vítimas ganhem confiança e se sintam apoiadas quando decidem avançar na Justiça».
Contudo, alerta o especialista, os casos muito mediáticos também podem ter um efeito perverso: «Podem criar falsas expectativas em quem já pediu ajuda para o seu problema, pois há de imediato comparações (do género, ‘este processo está a ser mais rápido do que o meu’ ou ‘eu pedi ajuda e não me deram proteção’».
joana.f.costa@sol.pt