Como é que pode importar tanto haver água em Marte, se há uma quantidade absurda de gente a morrer à sede aqui na nossa tão querida Terra? Vão lá buscar água e levar para África? Não. Então acalmem-se. “Ai, mas se há água quer dizer que pode haver vida!”. Pior ainda. Preocupemo-nos com os terráqueos e não com os extraterrestres. Primeiro os nossos.
Mas também digo-vos já, se há falta de água em África é porque eles, ou foram garganeiros e beberam logo tudo, ou andam a ser preguiçosos e a fazer poucas danças-da-chuva (ahah, eu sei que isto não resulta, mas eles que vão tentando). E se estão à espera que mandemos água da Europa ou cidadãos europeus para os ajudar a resolver o problema, bem podem tirar o cavalinho da chuva (viram mais esta referência à água? Sou mesmo um prato). Também há europeus a morrer à sede e é preciso cuidar deles antes dos demais. Primeiro os nossos.
A verdade é que a água é como a inteligência, não há em abundância no mundo e há que cuidar da que resta. Os caros leitores nem imaginam o quanto me transtornou quando Espanha, só porque estava a passar uma seca severa – mais severa do que aqueles professores que nunca dão mais que 16 nos exames para viverem na ilusão que mais ninguém será tão bom quanto eles – veio buscar água às barragens portuguesas. Ultraje para o nosso país. E se falta água aos nossos? Os nossos em primeiro.
E até vou mais longe. Primeiro está Lisboa, que é a minha cidade. Seca em Évora? Que Diana vos acuda. E primeiro que Lisboa ainda está o meu bairro, que por sua vez só vem depois da minha família.
Precisamente, no outro dia aqui no bairro, um mendigo pediu-me a água que eu estava a beber. Não lha pude dar e bebi tudo sofregamente até ao fim. Não sejam julgadores precipitados. Claro que me sinto mal, mas primeiro eu.
Eu e só eu. Eu a minha água. Eu no meu mundo que é meu e só meu, num universo exclusivamente meu.
Eu e a minha morte solitária com medo dos outros países, mundos e universos, e que quando digo “nossos” no fundo digo sempre “eu”.