O crescimento económico está a acelerar, o desemprego a diminuir, os fundos comunitários a chegarem, a esperança de alguns portugueses a renascer. Além disso, a coligação repetiu ad nauseam o argumento: “O PS chamou a troika; se voltar ao governo, vai tudo por água abaixo outra vez.” Simples, mas eficaz. Se a PaF ganhar, depois do período de austeridade brutal que Portugal atravessou, e com a intenção já anunciada pela ministra das finanças de “cortar” 600 milhões de euros anuais na segurança social, será de se lhe tirar o chapéu.
E ganhar significa obter uma maioria absoluta, porque com uma maioria relativa o governo que formarem durará pouco tempo (ou podem mesmo não formar governo).
Quem está em maré alta, quer nas sondagens quer na rua, é o Bloco de Esquerda. Concorde-se ou não com as suas propostas, há que reconhecer que Catarina Martins é uma política talentosa. E, numa situação em que nem a PaF nem o PS tenham maioria absoluta, o Bloco pode mesmo ser o fiel da balança, o que dará um poder enorme a um partido relativamente pequeno. Isto se não fizer como o PCP e recusar qualquer coligação ou acordo parlamentar com o PS. Mas o Bloco, apesar de eu não concordar com a grande maioria das suas propostas, por as achar demagógicas ou irrealizáveis, sempre me pareceu mais sensato que o PCP. Quando este parlamento que agora chega ao fim votou uma proposta a condenar os abusos dos direitos humanos na Coreia do Norte (que são horrendos), o único partido a votar contra foi o PCP. É um partido estalinista. Mas tem o eleitorado estável, e até pode subir.
Por fim, o PS, que se arrisca a ser o grande derrotado destas eleições. Saiu-se bem no caso Sócrates, mas dispersou a mensagem, com maus resultados. Parecia ter as eleições ganhas, mas tem vindo a descer consistentemente nas sondagens. Um dos melhores professores que eu tive na vida, o Doutor Luís Reis (Doutor por extenso, porque é médico e é doutorado), meu professor de Marketing no MBA, e que hoje é o nº 2 do grupo Sonae, disse uma vez: “trabalhar em marketing é ter a coragem de tocar sempre na mesma tecla”. Eu não percebo grande coisa de Marketing, mas acho que o PS devia ter tido essa coragem. Devia ter responsabilizado pessoalmente Passos e Portas pela situação do país.
Ataques ad hominem, sem problemas, porque Portas e Passos são mesmo responsáveis pelo estado lastimável em que estamos. Seria simples, e passava, possivelmente melhor que a palavra “Confiança” que enche os cartazes do PS, e que Álvaro Cunhal repetiu três vezes quando, em 1974, chegou a Portugal vindo do exílio soviético. Confiança é apenas uma abstracção, e a vida das pessoas não é feita só de abstracções. Mesmo assim, se houver uma maioria de esquerda no parlamento, o PS pode chegar ao governo. A política tem destas ironias.