Carros da polícia e da Factura da Sorte têm chip falseado

A polémica das emissões poluentes do grupo Volkswagen vai afetar a frota do Estado, com centenas de carros-patrulha da PSP e da GNR em risco de ir à oficina. E o caso tem ainda implicações nas viaturas do concurso semanal da Autoridade Tributária e Aduaneira, em que são sorteados modelos da marca Audi.

O concurso Fatura da Sorte já distribuiu 83 automóveis desde 2014 e pelo menos dois terços deles estarão na lista de veículos com emissões falseadas – admitiu ao SOL fonte oficial da SIVA, o importador das marcas Volkswagen, Audi e Skoda para Portugal.

O Estado começou por comprar 58 Audi com o motor 2.0 TDI (52 da gama A4 e seis da gama A6), todos eles com a norma europeia de emissões EU5 e parte dos 11 milhões de carros afetados em todo o mundo. Os restantes Audi sorteados mais recentemente e ainda a concurso até ao final do ano já não têm problemas de emissões, garantiu ao SOL a fonte da SIVA.

Relativamente aos veículos do Estado, está ainda por conhecer o impacto total deste caso. A frota pública tem 27 mil veículos e grande parte deles são do grupo SIVA. Os carros-patrulha da PSP e da GNR – 11 mil no total – são o principal destino das compras automóveis do Estado.

A lista de veículos da PSP a que o SOL teve acesso, do final de 2014, mostra que existem pelo menos 64 automóveis com os motores a diesel com o chip fraudulento. O grupo mais numeroso são Volkswagen Polo 1.6 TDI.

Incógnitas na Autoeuropa

O caso da GNR será porventura mais complicado. Os militares têm cerca de mil veículos do grupo. Só na última tranche entregue pela VW, no final do ano passado, há 100 Passat com o motor adulterado.

Em Portugal existem 118 mil veículos equipados com motores onde foram detetados dados incorretos de emissão de partículas poluentes. A maior parte – mais de 94 mil – foram distribuídos pela SIVA. Existem depois 23 mil carros Seat também com o defeito, segundo o Diário Económico.

Permanecem as dúvidas sobre se a Autoeuropa construiu automóveis com o software que altera as emissões, mas é quase garantido que sim, tendo em conta que a lista de motores a gasóleo afetados cresceu do 2.0 TDI também para o 1.2 e o 1.6. O próprio ministro da Economia, Pires de Lima, admitiu esta semana ter menos certezas, uma vez que “todas as fábricas que produziram para o mercado europeu não estão livres de terem produzido automóveis com a incorporação desse kit fraudulento, incluindo a Autoeuropa”. O Governo criou um grupo de trabalho para estudar os impactos do caso no país.

Contactada pelo SOL, a SIVA disse apenas que aguarda “informações mais detalhadas da Volkswagen AG” sobre todos os modelos envolvidos para estar “em condições de comunicar” se há na lista veículos fabricados na Autoeuropa. Quanto aos clientes, terão de aguardar pelo menos até à próxima semana para poderem aceder aos sites que a SIVA vai criar para divulgar os modelos envolvidos. A mesma fonte garantiu que as vendas de setembro não foram beliscadas por este escândalo: “Mostram um andamento normal”.

Empresas preocupadas

O SOL contactou também a LeasePlan, a maior gestora de frotas em Portugal, com um parque de 90 mil veículos. Fonte oficial da empresa confirmou que tem sido contactada por clientes que pedem informações sobre os seus carros. “A nossa preocupação é tranquilizar os clientes”, referiu a mesma fonte, que diz ter “uma excelente relação institucional com as marcas envolvidas” e que já foi informada pela SIVA de que o grupo alemão “vai assumir as devidas responsabilidades”.

emanuel.costa@sol.pt e joao.madeira@sol.pt