Mariana Mortágua subiu ao palco e fez a primeira intervenção da noite. Falava já no melhor resultado de sempre, manifestando, porém, uma preocupação: a vitória da coligação PSD/CDS.
Nessa altura eram apenas conhecidas as projeções eleitorais e a considerar o máximo e o mínimo de todas, tudo apontava para que votação no BE ficasse entre os 8% e os 12%. O que acabaria por se confirmar. O partido liderado por Catarina Martins conseguiu 10,2%, deixando para trás o resultado dramático de 2011: 5,17%.
"Do que sabemos de todas as projeções o BE pode estar à beira do melhor resultado de sempre", começou por referir Mariana Mortágua.
Após uma grande ovação, continuou, com uma voz mais grave: "Vemos no entanto com muita preocupação as projeções que dão como vencedora a direita".
Ainda era cedo para mais comentários e a deputada que se tornou este ano um elemento fundamental para o partido terminou: "O BE sai reforçado [para defender aquilo em acredita]”.
O BE aguarda ‘agora a resposta dos outros partidos’
Cada notícia, cada resultado, cada mandato conseguido conseguia arrancar gritos e fazer explodir os militantes e simpatizantes presentes, que de vez em quando se calavam para ouvir a emissão em direto dos três canais de televisão.
Pedro Filipe Soares, número dois pela lista de Lisboa, foi quem se seguiu. Numa curta reação aos jornalistas, mostrou-se cauteloso com o resultado que a direita ainda poderia atingir, mas deixou uma certeza: “Para nós era importante que a coligação não conseguisse maioria absoluta. Perdendo a maioria absoluta, perdem também o governo”.
E a coligação Portugal à Frente acabou mesmo por não conseguir a maioria absoluta. Mas é preciso uma mão do PS para que perdesse o governo. E foi isso que Catarina Martins frisou quando chegou a sua vez de subir ao palco.
A líder do Bloco de Esquerda anunciou que o seu partido iria rejeitar um governo PSD/CDS no início da legislatura. “Uma coligação de direita não será governo em Portugal se não tiver maioria”, disse na sua declaração da noite eleitoral, congratulando-se com o melhor resultado de sempre do BE.
Ainda assim deixou o desafio: O BE aguarda “agora a resposta dos outros partidos” da esquerda.
Por entre agradecimentos ao "meio milhão de eleitores" que, segundo as projeções, haviam votado no partido, deixou claro que o Bloco iria cumprir as suas promessas.
"Segundo as projeções alicerçadas em votos contados, temos mais votos, mais mandatos e mais força que nunca”. E tinham.
A porta-voz do BE lembrou que apesar de a coligação de direita ter sido a "candidatura com mais votos", teria uma representação menor. E foi aí que pressionou o PS: "Se a coligação de direita não tiver maioria absoluta não será pelo BE que a coligação conseguirá formar governo".
Disse mesmo que caso Cavaco decida "por filiação partidária ou por não estar atento aos votos" dar posse à coligação PSD/CDS, o Bloco "rejeitará no Parlamento essa possibilidade". E foi neste ponto que terminou com a provocação: "Esperamos a resposta dos outros partidos".
A ‘heroína da campanha’
Sobre o futuro, Catarina Martins disse que o país "precisa curar as feridas", precisa de investimento e de emprego.
"O Bloco de Esquerda sabe que serão anos difíceis, mas não esquece o que é essencial. A crise social, os reformados, uma em cada três crianças estarem na pobreza", disse.
E antes de concluir – com um agradecimento a todos os ativistas do partido, aos deputados que terminaram o seu mandato e aos que agora foram eleitos – frisou: "O Bloco não desiste de Portugal".
A “heroína da campanha”, como lhe chamou Francisco Louçã não quis fazer mais comentários.
A grande agitação foi travada com a entrada em cena de António Costa. Quando apareceu na televisão para reagir aos resultados, o líder do PS deixou em suspenso todo o primeiro andar do São Jorge. Esperava-se que alinhasse com o BE, que prometesse que não iria rejeitar um governo da coligação. Mas não foi o que aconteceu e ouviram-se assobios.
Ao mesmo tempo, o Bloco via cada vez mais consolidada a ultrapassagem ao Partido Comunista Português, que estava do outro lado da Avenida da Liberdade – resultado até comentado por Paulo Portas.
À 00h47, Catarina Martins entra na sala e diz que os resultados estão fechados: “Temos a maior percentagem de sempre, o maior número de votos de sempre”.
Com um sorriso cansado, lembrou em jeito de brincadeira que com a eleição do deputado Jorge Falcato – portador de deficiência física – o BE conseguia mais uma vitória: “O plenário da assembleia vai ter rampas”.
De seguida, pediu desculpa por ir embora e disse: “Estou cansada e amanhã teremos imenso trabalho pela frente”.
As vitórias do Bloco
Dos 22 círculos eleitorais, o BE conseguiu representação em 10. No total são 19 deputados. Pela primeira vez conseguiu eleger um deputado pela Madeira e recuperou os que tinha perdido em Braga, Coimbra, Leiria e Santarém.
Total:
Braga – 1
Porto – 5
Aveiro – 1
Coimbra – 1
Leiria – 1
Santarém – 1
Lisboa – 5
Setúbal – 2
Faro – 1
Madeira – 1