O arguido, de 47 anos, contou ao coletivo de Penafiel que o assalto ao apartamento da vizinha, que vivia sozinha, foi combinado previamente e realizado com a esposa, também arguida neste processo, usando um isqueiro com a forma de arma de fogo para "assustar".
Justificou que o assalto, realizado no dia 27 de abril de 2014, foi motivado por dificuldades financeiras por que passava o casal, porque ambos tinham os ordenados penhorados.
Aos juízes e ao procurador avançou que andava há muito tempo a ser ameaçado de morte pela esposa, que o "incentivava a realizar assaltos", mesmo a familiares, para arranjar dinheiro, e admitiu ter medo dela, para além de "ódio e raiva".
"Estava a viver um inferno com ela", exclamou, acrescentando que a companheira ameaçava denunciá-lo à GNR de ilícitos criminais ocorridos no passado.
"Eu tinha medo de ir para prisão", justificou-se.
Antes de começar a depor, o alegado autor do crime pedira ao juiz-presidente para falar sem a presença na sala da mulher, alegando ter medo dela, o que foi deferido.
Ao tribunal, o arguido disse também que a intenção inicial não era matar a vizinha, que só conhecia de vista, mas que o crime acabou por acontecer porque a vítima conseguiu identificar a esposa quando decorria o assalto.
Os dois arguidos atuavam com cara destapada, mas usavam luvas, reconheceu perante o tribunal.
A vítima, segundo a acusação, morreu na sequência de vários golpes no pescoço. O arguido admitiu, em audiência, ter desferido um único golpe, mas mais tarde reconheceu ter espetado a faca para acabar com o "pesadelo rápido".
"Foi um pesadelo. Eu estava desesperado", murmurou.
Declarou ainda que da casa da vítima, que imobilizara em cima de uma cama, de barriga para baixo e pés amarrados, o casal levou cerca de 500 euros em dinheiro, um anel e uma aliança em ouro e um telemóvel. Da venda das duas peças de ourivesaria resultou a verba de 90 euros.
Questionado sobre a razão pela qual só se entregou às autoridades meio ano após o homicídio, o homem explicou que já "não aguentava mais" e "porque tinha peso na consciência".
Ao coletivo, disse que não se consegue perdoar por aquilo que fez naquele dia, declarando que a vizinha "não merecia morrer assim".
"Lamento pelos familiares e amigos da vítima", comentou, quase chorando.
A arguida não quis prestar declarações, admitindo, porém, que poderá falar no final do julgamento.
A próxima sessão está marcada para dia 16 de outubro, às 9:30.
Lusa/SOL