“Quem estava em cima do molhe ouviu-os gritar por socorro, viu aquela aflição. Não havia um barco salva-vidas para acorrer ao local”, desabafa Paulo Dias, mestre da embarcação de arrasto Neptuno.
E continua: “O helicóptero chegou duas horas depois ao local da tragédia. É uma calamidade. Tem de haver mínimos de segurança. O barco salva-vidas da Figueira da Foz tem o motor avariado há três semanas». O dedo é apontado diretamente à capitania local, que “tinha conhecimento da avaria”. Outra das questões levantadas pelos pescadores é a ausência de um projetor – que terá sido trazido de Aveiro – para iluminar a zona da barra, onde o Olívia Ribau naufragou.
‘Barra assassina’
"Esta é a barra mais perigosa de Norte a Sul do país, e não temos a mínima segurança. É uma barra assassina para os pescadores", continua Paulo Dias, que passou 30 dos seus 46 anos na faina.
A barra da Figueira da Foz está encerrada devido à agitação marítima. Quando se deu a tragédia, estava condicionada a embarcações com mais de 12 metros – como o Olívia Ribau. Com a forte ondulação, o barco de pesca de arrasto acabou por virar.
O presidente do Instituto de Socorros a Náufragos lamentou, por seu lado, que os pescadores não tivessem os coletes salva-vidas colocados. Hoje, veio esclarecer que a mota de água que resgatou com vida os dois tripulantes do arrastão era "o único meio possível" de ser utilizado, outro seria um "suicídio".” A mota, garantiu o comandante Nuno Leitão, “era o único meio possível para chegar àquela situação em condições de segurança, acrescentando que era “um perfeito suicídio disponibilizar outro tipo de meios com hélices para aquela zona porque iríamos ter mais vítimas e nas operações de salvamento, acima de tudo, tem de se preservar a segurança de quem vai salvar".
Também o agente da Polícia Marítima que tripulou a moto de água considerou que aquele meio "era o único possível" de ser utilizado e que face às condições da ondulação na barra da Figueira da Foz a Autoridade Marítima fez "aquilo que conseguiu fazer".
Para os pescadores e familiares das vítimas, porém, foi pouco. Exigem agora explicações e uma averiguação ao sucedido na Figueira da Foz. Que até ao momento, adiantou o mestre do Neptuno, ainda não obtiveram.
A Marinha reforçou entretanto os meios de busca para procurar os quatro desaparecidos, envolvendo 70 operacionais das capitanias da Figueira da Foz, Nazaré, Aveiro e Douro, apoiados por uma lancha de patrulha oceânica, fundeada ao largo, com 40 tripulantes.