Entre os que admitem ser “frustrante fazer” o evento porque não o conseguem “rentabilizar” – como é o caso de Catarina Sequeira, a designer que se esconde por trás da marca Saymyname – e os que reconhecem, como Luís Carvalho e Carlos Gil, que a visibilidade que a ModaLisboa lhes proporciona traduz-se depois em vendas, uma coisa é certa: cada criador é um caso em si próprio, não há um modelo estandardizado de negócio e a profissionalização da indústria fora da passerelle ainda é muito escassa.
A conclusão não está fundamentada em nenhum estudo ou estatística oficial, até porque não os há – excetuando os indicadores que a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal reúne, mas que contabilizam toda a indústria e não apenas a criação por designers -, mas as quase três décadas de experiência de Eduarda Abbondanza na área garantem-lhe que assim é. “A moda de autor no nosso país não tem um peso económico relevante, não é um motor como em Itália ou França”, reconhece a diretora da ModaLisboa, responsável pela sua criação há 25 anos. Dito isto, contrapõe: “Só temos 30 anos disto. A moda em Portugal é muito jovem. É preciso persistir num trabalho contínuo para evoluirmos. Até aqui trabalhámos com a primeira ‘fornada’ de criadores nacionais, agora está a surgir uma nova geração. Pessoas que já chegam formadas, com imensas referências, com uma maturidade maior do que acontecia quando não havia, por exemplo, escolas, plataformas ou revistas especializadas”.
É por isso com confiança que Abbondanza prevê o futuro económico da indústria de moda no país, mesmo que para que isso aconteça de forma sustentável ainda seja preciso corrigir inúmeros fatores. Filipe Faísca, 51 anos, realça um dos que para si é determinante: nascerem “agências de produção e comercialização”. Trocado por miúdos, o criador defende que, para se tornar verdadeiramente rentável – algo que, ao fim de quase 30 anos de experiência, Faísca diz continuar a “ser muito pouco” – a gestão de uma marca deve estar a cargo de profissionais qualificados, libertando assim o designer só para a criação.
“O que faço na minha loja são protótipos. Quando os crio, decido o modelo, o corte e a qualidade que quero para cada peça e, depois, reproduzem-se nos tamanhos, cores e tecidos que se quer. Num mundo ideal, o que devia acontecer era eu fazer o protótipo e, a seguir, entregava-o a uma agência que, além de se responsabilizar por toda a produção, como acompanhar o fabrico e garantir, peça a peça, a qualidade, também asseguraria as vendas”. Estas agências não são criadas, acredita, porque como é um trabalho que “dá muitas chatices” e “somos um mercado tão pequeno” ninguém quer fazer.
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