Depois, o consumo diminuiu graças às medidas de austeridade, muitas empresas viraram-se para as exportações com sucesso, e hoje o nosso défice nas contas com o exterior desapareceu, tornando-se num superavit. As necessidades de financiamento da economia portuguesa são agora capacidade de financiamento (exportamos mais capital para o exterior do que importamos). Estamos, aos poucos, a pagar a nossa gigantesca dívida para com o exterior (superavit de 1,6% do PIB no 1º trimestre deste ano e de 1,3% no segundo).
E é por causa desta tendência da economia de desequilibrar quando se abrem um pouco os cordões à bolsa que é preciso muito cuidado, especialmente nos lados do consumo e do Estado. Quando oiço o PCP a pedir o aumento do salário mínimo nacional de 505 para 600 euros arrepio-me, não só porque iria fazer disparar o desemprego (muitas empresas não conseguiriam suportar os aumentos de salários), quer porque salários desse nível iriam fazer aumentar o consumo de bens e serviços importados. Em Portugal os salários não são baixos, são aqueles que a economia pode pagar, porque fabricamos camisas e não peças de Airbus (que, como são mais caras e sofisticadas, permitem aos fabricantes pagarem bons salários. Comparem os salários da Autoeuropa com os da indústria têxtil e compreenderão).
Por isso, agora que o pior já parece ter passado, por favor tenham moderação nos aumentos de salários. Não é por todos os patrões serem injustos, é porque não podemos desequilibrar novamente as nossas contas com o exterior. E, em período pós-eleitoral, quando se negoceiam as coligações, é preciso ter muito cuidado nas negociações, sobretudo na maioria de esquerda. Podemos ser muito generosos no curto prazo, e dentro de poucos anos termos cá novamente a troika.