Não é uma estreia literária e não é um jovem autor desempregado. Este ano o vencedor do Prémio Leya é o vice-presidente da câmara da Figueira da Foz, António Tavares, pelo romance O Coro dos Defuntos. Segundo o júri do prémio, a obra, que deverá ser publicada no próximo ano, tem como cenário a província beirã e o mundo da emigração na Suíça e nos EUA, versando sobre «as transformações aceleradas do mundo contemporâneo e o jogo de alusão e de metáfora sobre o devir da nossa sociedade e o agonizar do antigo regime político – até ao anúncio da revolução.
E esta não foi a primeira vez que o autor se candidatou ao prémio. Já o tinha feito em 2013 com As Palavras que me Deverão Guiar um Dia. Não ganhou – Uma Outra Voz, de Gabriela Ruivo Trindade, foi o romance escolhido – mas foi finalista. E o livro foi publicado, em 2014, pela Teorema.
Desta feita venceu. O júri, presidido por Manuel Alegre, foi unânime na escolha da obra, justificando a decisão pela construção sólida do romance, que conduz «o leitor através de uma escrita que inscreve em paralelo o percurso do país e o do mundo ficcional, sem que um se sobreponha ao outro». Ainda segundo o comunicado do júri, O Coro dos Defuntos «reanima, com conhecimento empático e com ironia, uma ruralidade ancestral – flagrante nos ambientes e nos modos de viver, nos horizontes da crença e nos saberes empíricos, na linguagem e na imaginação mítica».
Nascido em Angola, em 1960, António Tavares, vice-presidente da Câmara da Figueira da Foz, eleito pelo PS, vereador com, entre outros, o pelouro da cultura, foi professor no ensino secundário, tendo sido fundador e diretor do jornal regional A Linha do Oeste. E sempre esteve ligado à literatura. Além de ter assinado várias peças para teatro, estudos e ensaios, tinha-se já também candidatado ao Prémio Alves Redol atribuído pela Câmara de Vila Franca de Xira, pelo qual lhe foi atribuída uma menção honrosa (por um romance ainda inédito).
Criado em 2008, o Prémio Leya distingue, anualmente, um romance inédito em língua português. No valor de cem mil euros é o mais elevado da língua portuguesa a distinguir uma obra, tendo sido atribuído a Murilo Carvalho, por O Rastro do Jaguar, João Paulo Borges Coelho, por O Olho de Hertzog, João Ricardo Pedro, por O Teu Rosto Será o Último, Nuno Camarneiro, por Debaixo de Algum Céu, Gabriela Ruivo Trindade, por Uma Outra Voz e Afonso Reis Cabral, por O Meu Irmão.
Fizeram parte do júri, além de Manuel Alegre, os escritores Nuno Júdice, Pepetela e José Castello, e ainda José Carlos Seabra Pereira, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Lourenço do Rosário, Reitor do Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo, e Rita Chaves, Professora da Universidade de São Paulo.
