Os economistas têm sido acusados, e até ridicularizados, pelas suas falhas de previsão. Boa parte das críticas é injusta: a vida é bem mais imprevisível do que geralmente se pensa. A sorte e o azar, o mero acaso, têm uma influência muito maior no mundo do que julga, conscientemente ou não, uma mentalidade que se considera racional. É uma realidade que os psicólogos têm vindo a descobrir, assim ajudando os economistas a moderarem a sua ambição. Ou seja, a reconhecerem o enorme grau de incerteza do que acontece, embora isso seja desagradável.
E não só os economistas; todos nós, pessoas e organizações, sobreavaliamos a nossa capacidade de previsão. E até de explicação do passado: a causalidade na sucessão de acontecimentos na história é quase sempre ténue e equívoca, pois existem inúmeros fatores em jogo, alguns pouco conhecidos. Ainda hoje, um século depois, há historiadores a discutirem, divergindo, sobre as causas da I Guerra Mundial.
Por outro lado, tendemos a sobrevalorizar certas coisas, cometendo erros por causa de ‘enviesamentos cognitivos’, como dizem os psicólogos. Um exemplo clássico: 90% dos condutores de automóveis nos Estados Unidos acreditam serem melhores do que a média – uma impossibilidade lógica.
Este é um dos temas centrais do livro Pensar, Depressa e Devagar (ed. Círculo de Leitores, 2012) de Daniel Kahneman, um psicólogo que em 2002 recebeu o Prémio Nobel… da Economia, pela sua contribuição (e de um colega que já falecera) para compreender os processos de tomada de decisões. Um economista suíço, citado por Kahneman, resumia assim nos anos 70 do séc. XX o antigo, superficial e muitas vezes não explícito ponto de partida de numerosos economistas: «o agente da teoria económica é racional, egoísta e as suas preferências não mudam». Ora nenhuma dessas três coisas é verdadeira.
As pessoas têm preferências diferentes. Umas são mais egoístas, outras menos. E ao longo de uma vida não poucas preferências mudam, até porque as circunstâncias de cada um se vão alterando. Quanto à racionalidade, as recentes investigações dos psicólogos revelam que ela é frequentemente afetada pelos tais enviesamentos cognitivos, sem as pessoas se darem conta.
Por exemplo, um potencial empreendedor instintivamente não aceita que as hipóteses de uma pequena empresa sobreviver mais de cinco anos nos EUA são de apenas de 35% – um facto estatístico. Também se sobrevaloriza, às vezes escandalosamente (vistas as astronómicas remunerações pagas), a influência dos gestores de topo no maior ou menor sucesso de uma empresa. E é nula a correlação entre os vencimentos e os resultados dos conselheiros em aplicações financeiras.
Naturalmente que algum otimismo, ainda que não totalmente realista, é útil para haver quem assuma o risco de investir e empreender. O que implica, também, que não se encare o fracasso empresarial, a eventual falência, como algo extremamente negativo, uma vergonha perante a sociedade – o que ainda acontece entre nós, embora muito menos nos EUA. Mas João Pinto, antigo futebolista do F. C. Porto, estava mais certo do que os que dele troçaram quando disse «prognósticos só no fim do jogo».