Tudo aconteceu logo pela manhã pouco depois de as duas chegarem ao restaurante onde a mãe de Lurdes trabalhava, conta ao SOL. Ele apareceu, “tirou duas facas” e começou a agredi-la. “Quando olhei outra vez vi a minha mãe caída no chão cheia de sangue”.
Foi a correr para a porta da rua do restaurante gritar por ajuda. “Mas todos me viraram a cara e ninguém quis meter-se”.
Há muito tempo que Lurdes assistia em casa à violência do companheiro da mãe. “Tinham decidido viver juntos há três meses e desde aí as agressões e insultos aumentaram”.
O motivo, conta a jovem, seriam ciúmes sem fundamento. “O meu padrasto estava sempre a dizer que a minha mãe tinha outras pessoas, outros casos amorosos”. Mas “não era nada disso”, garante: “Ela trabalhava num restaurante e tinha de ser simpática com toda a gente”.
“Disse-lhe várias vezes ‘vamos embora daqui, vamos fugir para longe’. Mas a minha mãe tinha medo do que o meu padrasto nos podia fazer às duas e optou por não sair de casa”, lembra.
Reviveu tudo em tribunal em frente ao agressor
No dia em que a mãe foi assassinada, Lurdes pediu-lhe para não ir trabalhar. “Íamos as duas para o carro e um dos pneus estava furado. Achei que tinha sido o meu padrasto por vingança”. A mãe desvalorizou o incidente, mudou o pneu e pôs-se a caminho do trabalho com a filha. “Disse-me para não me preocupar, mas perdi-a nesse dia”.
O agressor acabou por ser condenado a 22 anos de prisão. Antes Lurdes teve, ainda com 11 anos, de depor como testemunha em tribunal. “Tive de reviver tudo à frente do meu padrasto. Foi muito doloroso”.
Lurdes voltaria mais tarde a ser testemunha de violência doméstica. “Depois da morte da minha mãe fui viver com a minha irmã mais velha, que era maior de idade, e com o companheiro. Mas ela também era vítima de agressões”.
Desta vez, conseguiu convencê-la a fugir. “Pedimos ajuda à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima e fomos para uma casa abrigo”. Ali foram acompanhadas, tiveram apoio psicológico. Nunca mais voltaram para aquela casa.
Atualmente, Lurdes vive sozinha. Licenciou-se em comunicação e marketing, trabalha e quer tirar um mestrado. “Aprendi a viver com esta dor, mas ainda me custa falar sobre isto. Hoje sou uma pessoa muito mais forte. Tenho capacidade para lutar e para nunca desistir”.