2. A sala do CCB não encheu para ouvir a candidata: chegam-nos informações de pessoas próximas da direcção de campanha que a mobilização ficou aquém do que se julgava. Porquê? Em grande medida, pelo sinal inequívoco de desapoio manifestada por António Costa: o líder socialista marcou a reunião com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas para a mesma hora do lançamento da candidatura de Maria de Belém. Uma pequena maldade muito comum em António Costa (não olha a meios para atingir os seus fins) com um enorme significado político…
3. Estando António Costa e os costistas com Sampaio da Nóvoa, quem apoia Maria de Belém? Essencialmente, figuras que provêm dos quadros do guterrismo e do socratismo. As figuras cimeiras dos anos Sócrates reapareceram, em grande e em força, para posar na foto com Maria de Belém, exibindo um ar muito ternurento e satisfeito. Destacamos José Lello: o socrático mais socrático que o próprio José Sócrates é um dos principais apoiantes de Belém. As companhias da candidata não são, portanto, as mais aconselháveis…
4. Dito isto, o discurso de Maria de Belém mostrou os argumentos da campanha que irá levar a cabo nos próximos dias, semanas e meses. Antes, porém, uma nota preliminar: o lançamento da candidatura praticamente não teve expressão mediática, nem nos meios tradicionais (presença residual nas capas de hoje), nem nos meios não tradicionais (na blogosfera, praticamente não existiu…). O que não deixa de ser sintomático: Maria de Belém, para já, não encanta, nem convence. Porque é uma candidatura que ainda não conseguiu deslocar da imagem que os portugueses dela têm: uma candidata do sistema, patrocinada pelo sistema e que, nos últimos anos, esteve sempre na política activa, caucionando um período negro da democracia portuguesa. O qual, como se sabe, culminou na quase bancarrota de Portugal. Maria de Belém, enfim, é uma candidata anti-Costa – mas pró-sistema como o conhecemos, com todos os seus vícios.
5. Voltando ao discurso, três linhas argumentativas fortes:
1) Belém é socialista, não renega o seu passado – mas não está dependente do partido, nem tão pouco lhe deve alguma coisa. Até porque não é a candidata oficial do partido – o apoio implícito de Costa a Nóvoa, a marcação propositada da reunião entre Costa e Passos para a mesma hora do lançamento da sua candidatura revelam, objectivamente, um confronto latente entre a candidata e o partido. Ou seja, mostrar que é uma candidatura socialista – mas não do Partido Socialista. Uma candidatura socialista – mas emanada da sociedade civil. Este é a mensagem que tentará transmitir aos portugueses até Janeiro;
2) A menção à luta contra a violência doméstica e em prol dos direitos das mulheres e das crianças, recolocando a família no centro da organização social e na luta contra a pobreza – ou seja, uma mensagem forte e muito apelativa para o eleitorado democrata-cristão e centrista. O mesmo se poderá dizer quanto à sua alusão à defesa de um projecto de desenvolvimento económico, assente na economia social – isto é, Maria de Belém joga o tudo por tudo no centro político para tentar forçar uma segunda volta. Neste aspecto, Maria de Belém cobre a parada de Marcelo Rebelo de Sousa: a socialista tenta ir mais longe na recuperação da doutrina social da Igreja, numa tentativa (vã?) para atrair a ala oposicionista a Paulo Portas no CDS/PP (com José Ribeiro e Castro à cabeça);
3) O discurso de que o PR é eleito e não coroado, nem nomeado. Um argumento populista que tenta jogar com as altas expectativas que a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa suscita, insinuando que há sectores que querem impor Rebelo de Sousa aos portugueses. Adicionalmente, é uma insinuação, muito subtil embora pouco discreta, à origem familiar do Professor e, principalmente, ao cargo que desempenhou na Fundação Casa Bragança – o Professor, no fundo, seria um monarca disfarçada de republicano. À atenção de Marcelo: este argumento – à liça de ataque pessoal – será esgrimido à exaustão por Maria de Belém, sobretudo, nos debates que ambos travarão. Marcelo responderá, certamente, com argúcia política e classe.
4).Isto é, Maria de Belém tem na cabeça um objectivo claro: conquistar o centro-político – ou fragmentando-o – para forçar uma segunda volta. E aí que Maria de Belém acredita que pode vencer as Presidenciais. Qual pode ser o próximo passo? Maria de Belém vai distanciar-se de António Costa, afirmando que quem ganha eleições, forma Governo. Para quê? Diminuir Costa; fragilizar Sampaio da Nóvoa, candidato da ala mais esquerdista do PS e cujo eleitorado Belém já não disputa; conquistar votos ao centro e até ao centro-direita, que ficará muito satisfeito com o apoio da candidata socialista, numa lógica de coligação negativa anti-Marcelo.