Marcelo, o PSD e António Costa

Marcelo Rebelo de Sousa apresentou, como se esperava, a sua candidatura a Belém.

O modo como o fez não foi o mais feliz.

Durante 95% do tempo Marcelo falou de si próprio – e só dedicou 5% a falar do país. Seria mais normal usar 95% do tempo para falar do país e deixar 5% para si próprio.

Veio ao de cima a face narcisista de Marcelo Rebelo de Sousa. E, simultaneamente, os hábitos adquiridos na função de comentador, de que terá de se libertar. Ao falar de si, era como se estivesse a falar de outro político, explicando aquilo que o recomenda para a Presidência da República. Marcelo deveria ter deixado isso para os analistas e para os biógrafos.

Curiosamente, parte da esquerda congratulou-se com este anúncio de candidatura, e até António Costa, que tinha incentivado discretamente Sampaio da Nóvoa a avançar, considerou Marcelo um nome «forte» para Belém.

Donde vem esta complacência para com um ‘candidato da direita’?

Há uma máxima que diz ‘se não podes vencê-lo, junta-te a ele’. Ora, percebendo que Marcelo Rebelo de Sousa é um candidato vencedor, a esquerda não o hostiliza para não sair das presidenciais com mais uma derrota. Além disso, há a convicção de que Marcelo pode ser um candidato incómodo para o PSD, conhecendo-se as relações difíceis entre ele e Passos Coelho.

Tudo isto mostra que, nesta questão, o PSD tem de ser muito hábil.

Mesmo considerando as reticências de Passos Coelho, o PSD tem de se envolver na campanha, tem de apresentar Marcelo como o seu candidato, para poder fazer dessa previsível vitória também uma vitória sua.

Caso contrário, corre o risco de serem outros a capitalizá-la. Como se tem visto nos últimos dias, António Costa está numa fase de tentar transformar as derrotas em vitórias…

P. S. – Falarei noutra crónica da candidatura de Maria de Belém.

jas@sol.pt