Em declarações aos jornalistas, no final da primeira reunião plenária da XIII Legislatura, Fernando Negrão disse sentir que neste momento existem "dois blocos" no parlamento, que se poderão manter "em permanente luta política" – de um lado, PSD e CDS-PP, do outro, PS e as forças à sua esquerda – e culpou os socialistas, dizendo que só dialogam "com uma parte do espectro partidário".
Quanto ao discurso feito hoje por Ferro Rodrigues, o deputado do PSD comentou: "É a segunda figura do Estado, deve ter uma posição de equidistância, e nós ouvimos o presidente da Assembleia da República fazer um discurso que é o discurso do PS, até do PCP, até do Bloco de Esquerda. Portanto, não houve propriamente o cumprimento rigoroso de uma pose de Estado".
Fernando Negrão criticou o PS pela intenção de apresentar uma moção de rejeição do Programa do Governo, e por ter proposto e votado na candidatura de Ferro Rodrigues a presidente da Assembleia da República.
"Senti efetivamente que neste momento temos dois blocos. E tudo isto assenta num problema, não direi de legitimidade, mas falta de cumprimento das regras democráticas que vigoram desde há 40 anos. Ou seja, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro emanam sempre do partido que ganha as eleições. Pela primeira vez, isso não acontece", declarou.
Segundo o antigo ministro da Segurança Social e diretor geral da Polícia Judiciária, "isso criou ou pode criar aqui uma fissura nos trabalhos parlamentares e na vida parlamentar".
"E hoje eu direi que se sentiu isso. Agora, tudo depende muito da capacidade de diálogo do PS, que a não tem demonstrado. Nós temos assistido a um PS que só dialoga com uma parte do espectro partidário", prosseguiu.
Fernando Negrão rejeitou que a votação de hoje, em que Ferro Rodrigues foi eleito com 120 votos a favor, e sua candidatura obteve 108, tenha sido uma derrota: "Não, não foi uma derrota. Foi a expressão da linha política destes dois blocos que hoje nós vimos. Cada um tem o seu discurso, e cada um fará a política que entender".
"Teremos com certeza esta constituição de dois blocos em permanente luta política dependendo, e insisto nisso, da vontade do PS em deixar de dialogar só com um setor", acrescentou.
Lusa/SOL