O PS seria assim o partido que, entre a direita e a esquerda, estaria mais próximo do maior número de votantes. Como qualquer pessoa perceberá, a noção de mais próximo (ou mediana) é manifestamente unidimensional. E a política é tudo menos unidimensional. Nem tão pouco os eleitores estão dispostos uniformemente sobre todos os assuntos relevantes. Admito que na ‘dimensão austeridade’ o PS seja o partido do meio (o que também pode querer dizer o partido do ‘nim’). Mas estará também ‘ao meio’ sobre a NATO? Ou sobre o Euro? Ou sobre a IVG? Ou sobre o casamento gay? Ou sobre o TGV? Ou sobre a reforma das pensões? Ou sobre a segurança das populações? Ou sobre o acolhimento de refugiados? Ou sobre as relações com Angola? Enfim, será o PS o partido mediano em todas as dimensões que cada um de nós pondera diferentemente, consciente ou inconscientemente, na solidão do voto?
As escolhas do presidente. Escrevo estas linhas antes de saber quem o Presidente irá incumbir de formar governo. As alternativas parecem-me óbvias: se o PS assinar um acordo formal com os partidos à sua esquerda que garanta apoio maioritário no Parlamento e o respeito pelos compromissos internacionais do Estado (designadamente quanto ao Euro e quanto à NATO), então António Costa deverá ser encarregado de formar governo. Mas atenção: deverá existir um acordo assinado e completo e não apenas uma promessa de acordo; e deverá ser um acordo suficientemente explícito na resposta às condições já enunciadas por Cavaco Silva. Estou convencido que será uma solução má e intrinsecamente instável mas, cumpridas estas condições, não restará ao Presidente outra alternativa. Caso contrário deverá ser Passos Coelho indigitado. Neste caso caberá ao PS a responsabilidade de suportar ou derrubar esse Governo.
Esquerda volver. É inegável que o espetro político europeu se deslocou para a esquerda. Suspeito (mas não sei seguramente) que sempre assim terá acontecido no seguimento de grandes crises económico-financeiras. Nestes momentos, a sensação de injustiça agudiza-se, pois são aqueles que menos culpa têm os que mais sofrem; a desconfiança nas instituições, tidas como capturadas pelos grandes interesses, generaliza-se; e a crença na capacidade do capitalismo para gerar oportunidades de mobilidade social ascendente, desvanece-se. Como se não bastasse, este clima de vilificação do capitalismo, é agudizado por falcatruas como as da VW. Toda a conversa de ‘responsabilidade social corporativa’ de uma empresa tida por modelo, revela-se não ser mais do que uma cortina de fumo por detrás da qual os padrões internos de qualidade de serviço e de responsabilidade se deterioram. A deriva esquerdista é uma forma de promover uma regulação externa do capitalismo quando se acredita que a autorregulação não funciona. Para travar esta deriva é fundamental que as empresas revertam ao seu propósito fundamental: fornecer aos consumidores o melhor serviço possível e com integridade.