"Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardamos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça", afirma Luaty Beirão, na carta enviada pela família à Lusa e na qual anuncia o fim da greve de fome, que na segunda-feira completou 36 dias.
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O músico e ativista, que também tem nacionalidade portuguesa, é um dos 15 angolanos em prisão preventiva desde junho, sob acusação de atos preparatórios para uma rebelião em Angola e de um atentado contra o Presidente da República.
Os restantes 14 aguardam julgamento no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, tendo Luaty Beirão pedido anteriormente para sair da clínica privada onde se encontra por precaução para se juntar aos colegas, em solidariedade.
"À sociedade: Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare", escreve Luaty Beirão na mesma declaração, sob o título "Carta aos meus companheiros de prisão".
O ativista angolano reclamava excesso de prisão preventiva, exigindo aguardar julgamento – entretanto marcado para 16 de novembro, em Luanda, – em liberdade, como prevê a lei angolana para este tipo de crime.
Na carta, a que a Lusa teve acesso, Luaty Beirão, que assina com os heterónimos musicais "Brigadeiro Mata Frakuzx" ou, mais recentemente, "Ikonoklasta", um dos rostos de contestação ao regime angolano, reconhece o apoio, nacional e internacional, pela "libertação" destes ativistas.
"No nosso país muita coisa mudou e outras lamentavelmente se repetem. Soube dos limites serem ultrapassados, com mamãs espancadas e vigílias à porta de igrejas, reprimidas cobardemente. Isto expôs a fragilidade de quem nos governa. E a prepotência, incompetência e má-fé demonstradas na gestão do nosso processo, trouxeram-nos até aqui. Cada decisão contra, acabou por resultar a favor de mais e maior atenção. Ainda assim, a força parece desproporcional", escreve Luaty Beirão.
Dirigindo-se diretamente aos restantes 14 ativistas detidos, atira: "Não vejo sabedoria do outro lado. Digo-vos o que disse noutras situações semelhantes: Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo. Vou parar a greve".
Criticando a forma como este processo foi gerido pelas autoridades angolanas, Luaty Beirão afirma que "de todos os modos a máscara já caiu" e "a vitória já aconteceu".
"E o mérito a seu dono: foi o próprio regime que, incapaz de conter os seus próprios instintos repressivos, foi, a cada decisão, obviando a vã promessa de democracia, liberdade de expressão e respeito pelos direitos humanos", afirma o ativista.
Acrescenta que os que contestam o regime angolano, liderado desde 1979 por José Eduardo dos Santos, já não são "arruaceiros" ou "jovens revús [revolucionários]", nem sequer "estamos sós".
"Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários. Foi assim que o nosso país nasceu, mas, desta vez, lutamos por uma verdadeira transformação social, em paz", concluiu a carta, assinada por Luaty Beirão.
Lusa/SOL