Pacheco Pereira: o elemento mais forte de união nacional

1.Pacheco Pereira é um caso singular na vida política e mediática portuguesa. Ninguém o bate em longevidade: há anos que se mantém no primeiro plano do panorama da comunicação social portuguesa, sempre com um pé dentro e um pé fora da política ativa. Ao mesmo tempo que trabalha com entusiasmo e fanatismo militante nos bastidores,…

2.A fórmula do sucesso de José Pacheco Pereira é muito simples: criticar tudo e todos, para ser diferente e dar um ar de ousadia e independência intelectual; apoiar cirurgicamente quem deve apoiar, mantendo o seu espaço vital no PSD; lançar o seu charme (se o tiver ou para quem ache que Pacheco o tenha) intelectual ou de génio incompreendido ao Partido Comunista (o seu amor de coração, mas nunca assumido) e ao Bloco de Esquerda; repetir uma série de frases feita sobre decência na política; e, finalmente, transmitir a imagem – falsa – de que é um catedrático em matéria de liberdade de imprensa e de “bom” jornalismo. No ínterim, Pacheco Pereira vai ocupando alguns cargos políticos – como o de deputado no tempo de Manuela Ferreira Leite, que o digníssimo Pacheco Pereira cumulou com a função de comentador televisivo na “Quadratura do Círculo” (isto é que é a política com ética, que Pacheco tanto reclama?) -, considerando-se sempre como genial e único: quando as coisas correm mal ou muito mal, Pacheco Pereira atira invariavelmente as culpas para terceiros.

3.Foi o que sucedeu com Manuela Ferreira Leite: as maiores asneiras cometidas pela ex-líder do PSD – antes, durante e depois da campanha em 2009 – foram todas concebidas e inspiradas por José Pacheco Pereira. Contudo, na Quadratura do Círculo, o comentador Pacheco Pereira comentava o Pacheco Pereira-deputado e o Pacheco Pereira Vice-Presidente de Ferreira Leite elogiando-se em causa própria – e criticando ferozmente, não poucas vezes, a sua Presidente Ferreira Leite. Pacheco Pereira vive, alimenta-se, reforça-se nessa ambiguidade que ele próprio cria: porque sabe que só assim sobrevive na comunicação social (a sua profissão) e na política (onde vai buscar o peso que tranquiliza a sua profissão).

4.Na edição da SÁBADO da semana passada, José Pacheco Pereira escreveu que a candidatura de Maria de Belém foi instigada e é patrocinada por Passos Coelho e Paulo Portas. Ou seja: Passos Coelho telefonou a Maria de Belém e sugeriu-lhe que se candidatasse para ajudar o centro-direita que, na altura, ainda não se conhecia. E Maria de Belém – ex-Presidente do PS! – aceitava de cruz a sugestão de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas! Maria de Belém estaria agora, no lufa-lufa da campanha eleitoral, a fazer um frete a Passos Coelho e a Marcelo Rebelo de Sousa (porque entretanto Pacheco Pereira já atualizou a sua teoria da conspiração!). Faz algum sentido? No limite, este tese de Pacheco Pereira ataca…o próprio Pacheco Pereira! Porquê? Porque esta tese de que a direita estaria a criar uma candidatura de esquerda alternativa na esquerda a Sampaio da Nóvoa surgiu ligada à estratégia de Rui Rio, de quem Pacheco Pereira é ideólogo-mor! Tudo isto é um nonsense atroz…Simplesmente ridículo.

5. Contudo, vindo de Pacheco Pereira, nada nos surpreende. Afinal de contas, esta é a mesma pessoa que escreveu, há meses, que as mulheres portuguesas estão com pulsões libidinosas mais fortes e mais selvagens devido ao filme “ 50 Sombras de Grey”, cujo sucesso, entre nós, se explica devido…à sodomia da “troika” (é reler o nosso texto, publicado aqui no SOL, “ As 50 Sombras de Pacheco Pereira”). É precisamente, no entanto, quando julgamos que Pacheco Pereira atingiu o cúmulo da efabulação política, eis que o nosso “génio incompreendido” volta a desafiar as nossas expectativas: esta semana, novamente na SÁBADO, Pacheco Pereira voltou a elevar a fasquia dos limites do ridículo na análise política. Senão, atentemos nas suas palavras: “ a candidatura de Marcelo tem aquilo a que chamei mancha ética que não vai ser fácil de apagar, tanto mais que que a ela se deve muito do seu putativo sucesso. Que diríamos nós (…) de alguém que usasse abusivamente dos recursos da sua profissão não só para se colocar numa vantagem em relação aos seus pares, como para deliberadamente os prejudicar numa qualquer competição? (…) Marcelo é, em primeiro lugar, o candidato da TVI”.

6. Confessamos que quando lemos as linhas que transcrevemos supra, soltámos uma gargalhada digna de se ouvir do outro lado do Atlântico e arredores! Como? Foi mesmo Pacheco Pereira que escreveu isto? Haverá outro Pacheco Pereira que nós não tenhamos o “prazer” de conhecer? É preciso ter muito topete! Pacheco Pereira construiu uma carreira, quase exclusivamente, no comentário político televisivo, nos jornais e nas revistas há vinte anos ininterruptamente!  Que sempre se serviu da comunicação social, e do seu estatuto de comentador incontestado, para promover as candidaturas dos seus amigos mais próximos e as suas próprias incursões na política. Um dia há-de se fazer a história de como Pacheco Pereira conquistou a distrital de Lisboa do PSD – e de como promoveu Duarte Lima como líder parlamentar do PSD, bem como do que foi a experiência de Pacheco Pereira como Vice-Presidente do PSD (o que fez e não fez e deveria ter feito). 

7. Ademais, este é o mesmo Pacheco Pereira que tem um programa na SIC NOTÍCIAS, no prime-time de domingo, em que sozinho perora durante meia-hora sobre o “bom jornalismo” e o “mau jornalismo”. E tenta dar lições de jornalismo aos próprios jornalistas – sendo, aplicando o mesmo critério, patrocinado pela SIC, na sua tentativa vã de condicionar os jornalistas. E tem sempre dois alvos: o SOL e o OBSERVADOR. São estas duas publicações que, em 90 % dos comentários, merecem a qualificação de “mau jornalismo”, apelidando os cronistas do SOL (todos, pelos vistos, não deve ler o jornal…) como “a direita radical e agressiva”. Por nós, pedimos publicamente: Pacheco, diga que João Lemos Esteves é um exemplo de mau trabalho, por favor! Queremos ser o seu “mau trabalho” da semana! Não há melhor elogio do que ser criticado por Pacheco Pereira.

8. Uma última nota: no fim de semana passado, em viagem no Alfa Porto-Lisboa, tivemos a honra da companhia de um casal septuagenário portuense, ambos fundadores do PPD no Porto. Depois de nos contarem diversas histórias bizarras sobre a fundação do partido, o senhor decidiu resolutamente ler a Sábado, parando na crónica de José Pacheco Pereira. Dedicou-lhe um minuto e meio da sua atenção. No quarto banco, estava um senhor, igualmente bastante simpático, de quarenta anos, sindicato do setor bancário – viemos a saber, minutos mais tarde, que é socialista.

9. Pois bem, após a revista Sábado ter sido largada em cima da mesa, o  senhor portuense fundador do PPD, o sindicalista da banca e nós mesmos, afirmámos em uníssono: “ Já não há paciência para o Pacheco Pereira”. Estranho momento de coligação de pensamentos, à esquerda e à direita! Num período de intensa divisão política, aprendemos que, afinal, há algo que une PSD, PS e porventura PCP e BE: a impaciência para ouvir as fantasias de Pacheco Pereira.

10. Quem diria que José Pacheco Pereira é o símbolo mais forte de união nacional? O Bloco Central ou a Frente popular da falta de pachorra para nonsenses semanais…

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