Um laboratório norte-americano identificou a presença da bactéria "Burkholderia gladioli", um micro-organismo responsável pela produção de duas potentes toxinas na farinha de milho usada na confeção da bebida, chamada pombe, e que provocou 75 mortes e que 232 pessoas adoecessem em Chitima, distrito de Cahora Bassa, na província de Tete.
O resultado da investigação conduzida pelas autoridades moçambicanas hoje anunciada pelo Ministério da Saúde concluiu que a farinha de milho ficou deteriorada na casa onde estava armazenada, após chuvas que alagaram o local.
"Embora tenha sido considerada imprópria para consumo direto, a farinha foi julgada adequada para a produção de pombe", adianta o relatório, indicando que a bactéria detetada neste ingrediente produziu uma "quantidade significativa" das toxinas (ácido bongrequico e toxoflavina).
Estas duas toxinas já constavam na literatura científica, que relatam casos de adoecimento súbito, comparáveis com o caso de Chitima, ocorridos na China e na Indonésia e também resultantes do consumo de alimentos fermentados.
"A ocorrência destas intoxicações é um evento relativamente raro", observa, porém, o Ministério da Saúde, destacando que, no processo de confeção de pombe, que dura vários dias, vão sendo adicionadas doses de farinha na bebida numa fase em que esta já não é fervida.
O caso de Chitima ocorreu na noite de 09 de janeiro, quando dezenas de pessoas consumiram a bebida tradicional ao regressarem de um funeral.
Na mesma noite, o centro de saúde de Chitima recebeu os primeiros quatro casos e a partir da madrugada de sábado a unidade começou a receber dezenas de vítimas e a mulher que preparou a bebida foi encontrada morta dentro da sua casa.
Na ocasião, o Governo decretou três dias de luto nacional e criou uma equipa multissetorial para investigar as causas da tragédia.
Um homem foi preso em fevereiro, suspeito de ter alterado a bebida, mas, segundo a investigação, "cai por terra a questão do envenenamento", disse hoje aos jornalistas Ilesh Jani, diretor do Instituto Nacional de Saúde, salientando que as autoridades moçambicanas tiveram sempre o cuidado de tratar o caso como uma intoxicação.
Amostras de pombe e da farinha de milho foram enviadas para análise em laboratórios em Moçambique, África do Sul, Portugal e Estados Unidos.
Apenas o laboratório norte-americano – que não foi identificado, apenas foi referido que é especializado em análises forenses – detetou a presença da bactéria letal na farinha de milho.
Segundo Ilesh Jani, "não é surpresa" que os outros laboratórios não tenham identificado a causa da intoxicação, uma vez que a suspeita da farinha de milho contaminada por uma bactéria foi uma suspeita que apenas surgiu mais tarde.
No seguimento deste caso, as autoridades moçambicanas asseguram que vão intensificar a fiscalização de alimentos vendidos na rua, começando por Maputo, e que será criado um laboratório de toxicologia no Instituto Nacional de Saúde, em Marracuene, arredores da capital.
Lusa/SOL