Ora quanto mais alta maiores as dúvidas dos credores sobre o seu reembolso, mais sobem os juros, mais aumenta a fatura a pagar no OE, mais dificuldades em se conter o deficit. As coisas a nível externo também têm tempestades a aproximarem-se: As crises de Angola e Brasil para onde exportamos mão-de-obra, know how e produtos, derretem aquela que foi um a almofada de sobrevivência da nossa economia nestes anos e a crise da China atrapalha a confiança mundial.
Neste enquadramento Portugal precisa desesperadamente de duas coisas. Continuar a garantir financiamento externo barato e crescer. Para crescer precisa de investimento e consumo. Para haver investimento e consumo é fundamental haver confiança. Para haver confiança é preciso que haja estabilidade política e paz social.
Por outro lado a democracia é o Governo da maioria, 50%+1. Quando os eleitores não dão a maioria a nenhum partido estão a dizer que não querem um governo de um só partido, que querem no governo uma coligação de partidos. Por outro lado neste quadro é impossível governar em minoria, com um mínimo de sucesso, numa situação de bipolarização radicalizada com uma maioria do eleitorado agressivamente contra.
É há luz disto que devem ser analisadas as três soluções que existem pela frente :
Solução1- Governo da Coligação PAF
Vê-se pelo gráfico que é uma solução claramente minoritária. A bipolarização introduzida pela viragem tática do PS para esquerda, não devidamente combatida, torna ainda mais significativa a diferença. Só este facto torna quase impossível governar contra uma maioria eleitoral negativa. Mas a esta dificuldade soma-se o facto de haver uma inconformada e agressiva maioria negativa no parlamento. Todas as medidas impopulares destinadas a diminuir a despesa e garantir o pacto orçamental serão chumbadas, sem sequer ter que se recorrer ao Tribunal Constitucional. Restará ao governo aumentar ainda mais os impostos. Aumentar os impostos significa tirar dinheiro à economia. Diminuir o investimento e o PIB, e aumentar o desemprego e o deficit.
Por outro lado reinará a instabilidade social e política e tudo estará parado à espera do momento de novas eleições, que, ainda por cima, só poderão ocorrer a partir de Maio. Portugal não aguenta!
Pouca diferença fará em relação a um Governo de Gestão, solução de que alguns falam mas ainda mais impensável. Apenas admitida porque a solução seguinte ainda parece pior.
Solução 2 – Governo de António Costa viabilizado pela Esquerda.
Considerando como boa a análise de Vitorino na SIC de que 1/3 do PS quer um Governo de Frente de Esquerda, 1/3 é contra um governo de Frente de Esquerda e quer uma Coligação com a PAF, percebe-se que um Governo de Frente de esquerda tem o apoio de apenas 30% dos eleitores. Poderá ir aos 40% se for apenas do PS , somando os que só querem PS mas por outro lado perdendo apoios ativos no eleitorado à esquerda. Em quaisquer das soluções terá contra si pelo menos 51% dos eleitores . Eleitores agressivos, que se sentem usurpados. Que consideram que António Costa fez uma golpada. Por outro lado não contará com qualquer facilidade na AR por parte da PAF (e até de alguns dos seus deputados?) que chumbará todas as medidas. António Costa fica absolutamente às mãos do PCP e do BE. Será fritado em lume brando, entalado com a necessidade de cumprir o Pacto de Estabilidade Orçamental sem ter quem lhe dê a mão. As Presidenciais num contexto deste serão contra ele.
É claramente uma solução menos democrática que a anterior, de natureza política absolutamente artificial, que fratura profundamente o PS e que tem como Primeiro-Ministro alguém, que se proclamando contra vitórias poucochinho, ficou claramente em segundo.
É uma solução que não é democrática (ainda se os eleitores do PS tivessem sido prevenidos…), minoritária num eleitorado revoltado, que deixa nas mãos do BE e no PCP as decisões políticas e assusta as entidades patronais e a UGT. Contém em si uma tempestade perfeita permanente. Sem poder conter a despesa, bem pelo contrário, obrigado a aumentá-la, só lhe restará a solução de aumentar os impostos. Terá o investimento parado, a atividade económica e o consumo bloqueados por receio…Haverá recessão, desemprego, dívida, baixa do rating (sensível também às inconstâncias políticas) e subidas de juros e penalizações da EU. O PCP com a mão nos transportes promoverá greves nacionais…
Resta a esperança que António Costa perceba a tempo na loucura em que se está a meter, em que está a meter o PS e sobretudo em que está a meter o País. Tem até este fim de semana uma oportunidade de se salvar (e muito disto tudo tem a ver com a salvação de António Costa) , de salvar o PS de se partir ou passar a ser irrelevante no panorama político português por não confiável pelo eleitorado do centro, e, esquerda por esquerda, antes o Bloco de Esquerda cujas teses em vez de combater o PS certificou…e de salvar o País.
Solução 3- Governo de Grande Coligação ao Centro
Pode ainda António Costa, depois de uma reflexão solitária, dizer amanhã: “ Tentei tudo para conseguir um acordo político com o PCP e BE que garantisse um governo de esquerda que pudesse ser confiável e governar com estabilidade por 4 anos. Aqueles partidos não foram razoáveis, recusaram o comprometimento e fizeram exigências incomportáveis com a realidade do País. Não sendo possível o acordo à esquerda, o País precisa de um Governo estável e maioritário pelo que proponho que o PS retome as conversações com o PSD e o PP tendo em vista uma Coligação ao Centro que garanta um forte compromisso social e a estabilidade política.”
Esta é também a posição de Passos Coelho que tem olimpicamente mantido a mão estendida ao PS, sabendo que é a única solução boa para o País (e para si)
É a única solução como dizia hoje o socialista Luís Amado, que garante a estabilidade política, a paz social, o investimento e crescimento económico e mais emprego e desenvolvimento.
É a única solução que corresponde de facto a uma maioria eleitoral e que garante estabilidade por quatro anos.
São doidos os que apostam em governos de gestão ou em novas eleições em Junho. Nisto Marcelo tem razão.
Se o fizer, António Costa, não será Primeiro Ministro mas consegue chegar ao congresso como Vice Primeiro Ministro e com o Partido unido. Pode até, demonstrando a sua adesão ao Centro, deixar cair já Sampaio da Nóvoa, pensado como candidato presidencial da Frente de Esquerda que assim se tornou inútil, e ir à luta presidencial apoiando Maria de Belém Roseira, que tem o charme de poder ser a Primeira Mulher na Presidência e o contraponto de poderes à liderança à direita do Governo.
O gráfico abaixo mostra o amplo apoio eleitoral de um governo deste tipo (contando apenas com 2/3 do PS) . Numa solução destas o BE terá um importante papel de vigilância em relação à corrupção e o PCP em relação aos abusos laborais.
É a única solução que espelha os resultados das eleições e a única em que Portugal tem futuro.
Pede-se que os políticos assumam as suas responsabilidades.
*Autor do livro “A questão democrática, propostas refletidas para a melhoria dos sistema politico”-
Blogue www.oreformista.blogspot.com
antonioalvim@netcabo.pt