Abram alas ao talento sub-22

Gonçalo Guedes, Nélson Semedo, Gelson Martins e Rúben Neves são os quatro jovens em maior destaque na 1.ª Liga, mas apenas os dois benfiquistas figuram entre os jogadores com menos de 22 anos que, à nona jornada, cumpriram mais de metade dos minutos de jogo.

A nova aposta do clube da Luz “para equilibrar a competitividade desportiva com a sustentabilidade económica”, como justifica Luís Filipe Vieira no Relatório e Contas anual divulgado esta semana, está a traduzir-se em campo. Não só o Benfica é neste momento a terceira equipa que mais tempo de jogo proporcionou a jovens sub-22 – atrás do Paços Ferreira e do Moreirense –, como é a que utilizou um leque mais alargado de jogadores dessas idades, a par do Nacional (seis).

Quando se pensava que Sílvio seria o escolhido para colmatar a saída de Maxi Pereira para o FC Porto, Rui Vitória entregou a titularidade a Nélson Semedo, proveniente da equipa B. O lateral que jogava a extremo no Sintrense agarrou a oportunidade e, aos 21 anos, já chegou à Seleção. Se não é hoje dos mais utilizados no campeonato, deve-se à lesão que ainda o retém na enfermaria.

Já Gonçalo Guedes aproveitou o azar do lesionado Salvio e, aos 18 anos, revela-se como o segundo jogador com mais passes para golo na Liga (quatro), superado apenas pelo companheiro de equipa Nico Gaitán (seis) e em igualdade com o sportinguista Jefferson.

Em Alvalade, a nova pérola saída da academia chama-se Gelson Martins. Jorge Jesus gostou do que viu logo nos primeiros treinos e tem oferecido espaço na equipa ao irrequieto extremo de 20 anos, ainda mais após o afastamento de Andre Carrillo. Ao contrário de Guedes, porém, Gelson tem sido lançado quase sempre como suplente utilizado e não consta do grupo de 17 jovens que atuaram em pelo menos metade do tempo de jogo até ao momento – fica a 59 minutos dessa fasquia situada nos 405.

O mesmo acontece com o portista Rúben Neves, que aos 18 anos exibe maturidade de gente grande, a ponto de ter sido promovido ao lote de capitães de equipa. Na calha para ser chamado à Seleção principal, segundo assumiu recentemente o selecionador Fernando Santos, o médio defensivo tem entrado mais nos planos de Julen Lopetegui na Liga dos Campeões do que no campeonato, onde Danilo Pereira surge um passo à sua frente.

Águias na linha dos leões

Estes dados refletem a aproximação do Benfica à política seguida pelo Sporting nos últimos anos – sem garantias de sucesso desportivo, note-se –, enquanto o FC Porto se mantém virado quase em exclusivo para o mercado de futebolistas com provas dadas. Só o Sp. Braga recorreu menos aos jovens do que os dragões, que têm em Rúben Neves uma exceção, embora também o ponta-de-lança André Silva, de 19 anos, esteja na iminência de se estrear.

Na Luz, além de Guedes e Semedo, já foram utilizados outros quatro sub-22, casos de Victor Andrade (20 anos), Renato Sanches (18), Clésio (21) e ainda Talisca (21), o único dos seis que não passou pelos escalões de formação das águias.

“Gonçalo Guedes e Nélson Semedo são apenas os primeiros jovens a mostrar que existe talento nas nossas camadas jovens, mas que é necessário dar-lhes oportunidade”, sustenta o presidente dos encarnados.

Com maior tradição na aposta em jovens, o Sporting deu-se mal nas épocas em que exagerou no recurso ao seu viveiro de talentos. Tornou-se consensual em Alvalade a ideia de que não podem ser todos lançados ao mesmo tempo e que é necessário enquadrá-los com jogadores mais experientes.

Além de Gelson, esta época começa também a ganhar destaque Matheus Pereira, que aos 19 anos parece ter ultrapassado Carlos Mané (21) nas opções de Jesus. Tobias Figueiredo (21) e Bruno Paulista (20) são os outros sub-22 com presenças pontuais na equipa.   

Como aconteceu com William Carvalho, Adrien Silva e João Mário, o Sporting tem optado por fazer rodar algumas promessas noutros clubes antes de lhes dar a oportunidade de vingar no plantel principal. Na lista dos 17 jovens mais utilizados ao fim de nove jornadas, três pertencem aos leões: Rúben Semedo, Iuri Medeiros e João Palhinha.

Também há dois cedidos pelo FC Porto, casos de Ivo Rodrigues e Leandro Silva, sendo que o único pertencente ao Benfica nestas circunstâncias, Fábio Cardoso, lidera este ranking dos sub-22 com mais tempo de jogo. O defesa do Paços de Ferreira, de 21 anos, acumula 720 minutos em campo (falhou uma das nove jornadas), os mesmos que o seu companheiro de equipa Diogo Jota.

O clube da capital do móvel é de longe o que recorre mais à juventude (2.651 minutos), seguido do Moreirense (1.699) e do Benfica (1.482). Sporting (641) e FC Porto (272) aparecem bem mais atrás.

‘Luta’ de empresários

Diogo Jota é um avançado franzino de 18 anos, formado nas escolas do Gondomar, que se estreou na equipa principal do Paços pela mão de Paulo Fonseca. Tinha 17 anos e o treinador antecipou-lhe um grande futuro. O Barcelona já o observou.

A esta curiosidade dos catalães não será alheio o facto de Jota ser representado por Jorge Mendes. O famoso empresário português tem na sua carteira de clientes cinco dos 17 jovens que mais jogaram nas primeiras jornadas do campeonato, incluindo o guarda-redes André Moreira – que levou do Ribeirão para o Atlético de Madrid e está agora emprestado ao União da Madeira. Os outros são Guedes, Nélson Semedo e João Palhinha.

Carlos Gonçalves, o segundo maior empresário português, também marca posição entre os jovens talentos, ao representar Ivo Rodrigues, Fábio Sturgeon e André Horta.  

rui.antunes@sol.pt