Recuando. Então parece que a H&M lançou uma coleção limitada de uma tal marca Balmain. Perdoem-me a ignorância em relação a moda, mas desconheço tal marca e estou a fazer tudo para assim continuar. O cenário do lançamento, segundo o que li e vi na reportagem da New in Town, foi de correrias e disputas pelas peças. Calma, porque até houve uma família, mãe, filha e padrasto, que acampou durante a noite à porta da H&M.
Eu agora podia descrever-vos a vergonha alheia que sinto neste momento com isto tudo, mas ia demorar ainda mais páginas que o Eça fez para falar da casa da Rua das Janelas Verdes, e com muito menos qualidade.
Em que ponto é que alguém se torna tão miserável intrinsecamente que se sujeita a esta figura absurdas? Não é comida, não é um cobertor para aquecer nas noites frias, não é um emprego.
Mas, se calhar, estou completamente enganado. Se calhar, o rapaz que lutou, e ganhou, pelo blazer branco agora vai finalmente conseguir o emprego com que sempre sonhou, ou sair do armário e ser feliz, ou ir passeá-lo para Miami à la Don Johnson, ou até mesmo deixar de ser tão ridiculamente básico. A sério que acredito nisto. Até porque um dia também comprei umas hawaianas e por causa delas consegui ir para a praia calçado e fiquei muito feliz. Foi muito importante para a minha vida.
Enfim, não me vou irritar mais com este assunto mundano e absolutamente vergonhoso.
Vou continuar aqui a minha viagem pela Índia, onde há pelo menos 20 sem abrigo por cada rua, onde há milhares de milhões de pessoas que andam descalças e vestidas com farrapos a viver com menos de 1€ por dia. E não é que falei com algumas delas e são milhões de vezes menos miseráveis do que quem corre e briga por uma peça de roupa de marca?
Não, não temos de nos nivelar todos pela miséria material real de algumas pessoas, mas se algum dia houver saldos de bom senso, espero que também aproveitem para o comprar em barda.