"Este conflito armado [entre Governo e oposição da Renamo] está a incomodar a nossa sociedade e é uma grande preocupação nossa", disse em entrevista à Lusa o vice-presidente da CTA, Rogério Samo Gudo, apontando também o recrudescimento da criminalidade como outro fator para as ameaças à economia.
Além da instabilidade política, Moçambique enfrenta uma forte desvalorização do metical face ao dólar, diminuição das divisas, aumento da inflação, redução do investimento estrangeiro e da ajuda externa e subida do endividamento do país.
Samo Gudo apontou também um arrefecimento da economia", provocado pelo processo eleitoral de outubro de 2014, e as cheias no início deste ano que arrasaram infraestruturas e colheitas, colocando maior pressão sobre as contas do Estado, num país que sobrevive de importações.
O vice-presidente da CTA lembrou que economia também é perceção e o investimento estrangeiro desempenha um papel essencial em Moçambique, onde "o empresariado ainda não tem musculatura e liquidez para andar por ele próprio".
E mais uma vez a perceção joga um papel relevante em setores como o turismo "e a questão da segurança torna-se muito importante" para quem pensa investir ou visitar o país.
"Não podemos esquecer que Moçambique está a concorrer com outros países no turismo e nos investimentos e, quando ouvem falar em insegurança, as pessoas vão querer aplicar os seus recursos e poupanças num lugar onde sabem que vão ter de certeza retorno", observou.
O investimento estrangeiro está em queda e um segmento importante do turismo em Moçambique – visitantes que associam viagens de negócios a lazer – também diminuiu bastante.
O habitual pico de turismo, entre novembro e janeiro, avizinha-se, mas, segundo Samo Gudo, "se a situação [de instabilidade política] prevalecer, não vai haver muitos turistas a visitar o país".
Sem avançar números, o vice-presidente da CTA afastou a ideia de muitos operadores turísticos a encerrar atividade, mas assinalou que "o seu volume de negócio baixou consideravelmente e estão a fazer um grande esforço na esperança de que o próximo ano seja melhor".
Moçambique vive momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
As últimas semanas têm sido marcadas por confrontos entre as partes, estando a decorrer uma operação policial de recolha de armas da Renamo em vários pontos do país, num dos momentos de maior tensão política e militar desde o Acordo Geral de Paz, que selou, em 1992 em Roma, 16 anos da guerra civil.
Lusa/SOL