Economia portuguesa com crescimento abaixo do esperado. O que dizem os analistas?

O comportamento da economia portuguesa no terceiro trimestre ficou aquém do esperado e pode dificultar um crescimento do PIB de 1,6% no conjunto deste ano, como pretende o Governo, com alguns analistas a admitirem piorar as suas estimativas.

O comportamento da economia portuguesa no terceiro trimestre ficou aquém do esperado e pode dificultar um crescimento do PIB de 1,6% no conjunto deste ano, como pretende o Governo, com alguns analistas a admitirem piorar as suas estimativas.

Segundo a estimativa rápida das contas nacionais, divulgada hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 1,4% no terceiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2014, mas estagnou face ao trimestre anterior.

Este comportamento da economia portuguesa ficou aquém do esperado pelos analistas contactados pela agência Lusa, que estimavam um crescimento de cerca de 0,4% do segundo para o terceiro trimestre e em torno dos 1,8% em termos homólogos.

Para a economista-chefe do BPI, Paula Carvalho, a estagnação neste trimestre "aumenta os riscos de que a projeção de crescimento de 1,6% [do Governo de gestão liderado por Pedro Passos Coelho] não seja alcançada e põe em causa cenários mais otimistas que apontavam para 1,7%".

Além disso, sublinhou a analista, os números divulgados hoje pelo INE vêm "evidenciar as fragilidades que ainda persistem na economia, o baixo ritmo tendencial de crescimento e a importância do andamento do investimento e das expectativas dos empresários para o comportamento da atividade económica". 

Ainda assim, o BPI mantém o cenário de crescimento de 1,6% este ano, em linha com o do Governo, aguardando pela divulgação do detalhe do relatório, mas atribui "uma probabilidade elevada à possibilidade de revisão em baixa ligeira" desta estimativa.

Por sua vez, o economista-chefe do Montepio, Rui Bernardes Serra, disse à agência Lusa que esta "inesperada estagnação" no terceiro trimestre levou os analistas do departamento de estudos do banco a rever em baixa a sua previsão para o total do ano de 2015, de 1,7% para 1,6%, o que "tem implícito uma expansão em cadeia do PIB entre 0,4% e 0,6% no quarto trimestre".

"Note-se que o fraco crescimento do terceiro trimestre deveria à partida ter como reflexo um maior crescimento no quarto trimestre, ademais acompanhando a esperada aceleração da zona euro. O indicador de sentimento económico da Comissão Europeia encontrava-se em níveis consistentes com uma subida em cadeia do PIB de 0,6% no terceiro trimestre e apenas com o dado de outubro sugere um crescimento de 0,7% no 4.º trimestre", afirmou o analista.

Por outro lado, disse Rui Bernardes Serra, o crescimento estará a ser condicionado "sobretudo pela instabilidade política", sendo ainda prematuro perceber qual o real impacto desta instabilidade. 

Este é um entendimento também do presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, lembrando que a instabilidade política poderá ter tido algum impacto no investimento no terceiro trimestre (que desacelerou entre julho e setembro) e admitindo que ela poderá voltar a prejudicá-lo no último trimestre do ano.

Questionado pela Lusa sobre se o comportamento da economia no terceiro trimestre pode comprometer a meta do Governo em gestão de Pedro Passos Coelho, de um crescimento de 1,6% no conjunto de 2015, Filipe Garcia admitiu que sim: "Pode comprometer ligeiramente. Desde março que considero que 1,5% seria mais realista, 1,6% e mesmo 1,7% parecem-me agora um pouco otimistas", disse. 

Ainda assim, o presidente da IMF considera que os números de hoje, apesar de ficarem aquém das expectativas, estão "enquadrados num contexto da zona euro e internacional", lembrando, por exemplo, a queda das bolsas em agosto, nomeadamente na China, e o impacto no investimento.

A economia da zona euro cresceu 1,6% no terceiro trimestre, face ao mesmo período de 2014 e 0,3% na variação em cadeia, segundo uma estimativa rápida do Eurostat.

Lusa/SOL

O comportamento da economia portuguesa no terceiro trimestre ficou aquém do esperado e pode dificultar um crescimento do PIB de 1,6% no conjunto deste ano, como pretende o Governo, com alguns analistas a admitirem piorar as suas estimativas.