As asas são para desfilar

‘O que fazes no dia 10 de novembro?’. São estas as palavrinhas mágicas ditas pelo produtor Ed Razek que a manequim presente na sala quer ouvir, com a agenda desse dia previamente desimpedida. Os anjos podem não ter costas mas de pouco servem sem asas –  estas, concedidas pela marca Victoria’s Secret, são das mais…

Gostos não se discutem, mas se há um dedo criador responsável pela beleza na Terra, foi especialmente generoso com  este elenco. Depois, há que contar com o supervisor local, o homem que elege a nata da nata numa montra já de si finíssima. Uma espécie de porteiro da discoteca da moda responsável pela entrada de uns happy few, com a difícil tarefa de comunicar a algumas destas descendentes de Afrodite que terão que ficar pelo caminho. John Pfeiffer. É ele o diretor de casting ao serviço da famosa marca de lingerie, que esta terça-feira, em Nova Iorque, gravou o aguardado espetáculo, a transmitir nos EUA no dia 8 de dezembro, em jeito de presente natalício antecipado. O mesmo que aconselha cada jovem modelo que requisita as suas preciosas máximas: «Circula o mais o que puderes. As pessoas estão sempre a olhar para ti. Nunca sabes que diretor de casting ou bloguer se encontra ao teu lado», descreve ao Business of Fashion. 

Nascido em Honolulu, no seio de uma família de artistas e académicos da música, dividiu a infância entre o Havai, as Filipinas e o Novo México. Recebeu aulas de moda na Universidade do Havai mas foi uma festa de beneficiência que pavimentou o caminho para o tortuoso universo do glamour. Depois de uma escala em São Francisco, seguiu um dos irmãos para Nova Iorque. Corria 1991, ano do famoso Love Ball, uma angariação de fundos a favor da luta contra a Sida organizada por Suzanne Bartsch, evento que uniu a cultura e a fauna do Harlem e a comunidade trendy da época, e contou com aparições de Madonna, Marc Jacobs e outros personagens sonantes. Foi como uma epifania para John Pfeiffer, que nunca assistira a uma parada do género. «Sabia que tinha que estar associado à produção de grandes eventos criativos», recorda.

Começou a sua carreira em 1992, no coração da cena da moda novaiorquina, mais tarde com extensões nas capitais europeias, sede das principais semanas de moda. A atual carteira de clientes fala por si: Michael Kors, Donna Karen,Vera Wang, Oscar de la Renta e a Victoria’s Secret, claro, que não dispensa a sua presença na mesa reservada ao júri das provas de seleção, como confirma o vídeo dos bastidores revelado recentemente pela marca.

20 anos de anjos

Mulheres dos EUA, Rússia, Alemanha, Peru, Nepal, Tanzânia. Elas voaram dos cinco continentes dispostas a conquistar um lugar num evento já popularizado como ‘o Super Bowl das passarelles’. Pfeiffer conheceu uma a uma as 500 que tentaram a sua sorte. 300 transitaram para a shortlist e, por fim, 44 conseguiraram superar esta fase, no ano em que a marca assinala duas décadas do evento, entretanto convertido num verdadeiro blockbuster. Com um custo de cerca de 12 milhões de dólares, é exibido nos ecrãs  de 11.5 milhões de lares, daí a analogia com um espetáculo desportivo de massas. «Estas raparigas são como atletas de alta competição. Têm que estar no seu pico de forma», concorda o diretor de casting à Another Mag.

Apesar da cumplicidade com as mais prestigiadas etiquetas, Pfeiffer admite que o desfile da Victoria’s Secret é outro campeonato, apenas levemente comparável à produção que seguiu de perto, em 2002, e que levou uma mão cheia de top models até ao festival de Cinema de Cannes, que arrancaram cliques às centenas de fotógrafos que assentaram arraiais na Riviera Francesa.

De resto, as reações registadas durante o processo de recrutamento da Victoria’s Secret, fundada em 1977 por Roy Raymond, e sedeada no Ohio, EUA, comprovam a singularidade do momento. Izabel Goulart, a brasileira de 31 que assegura esta tarefa desde 2005, tem dificuldades em expressar o que o evento representa para si. «Cada show é como se fosse o primeiro», confessa frente à câmara. Uma das produtoras larga uma lágrima – um drama ao nível daquele jogo de 1990 em que os San Francisco 49ers venceram os Denver Broncos por 55-10.

 

 

Abençoada genética

…e treino militar. São estes, segundo Pfeiffer, os ingredientes secretos para a vitória quando falamos de nomes como Doutzen Kroes, Adriana Lima, Behati Prinsloo, Alessandra Ambrosio, Joan Smalls, Candice Swanepoel, Lais Ribeiro, Karlie Kloss, ou Cara Delevingne.  Ombro a ombro com os restantes destinos, Portugal faz-se representar por Sara Sampaio e Sharam Diniz. Em 2015, cabe a Lily Aldridge correr a passerelle com o sutiã de luxo Fantasy Bra, uma preciosidade avaliada em 1,8 milhões de euros com diamantes, qual joia da coroa de uma coleção marcada pela exuberância a todos os níveis.

Os destaques desta edição incluem dois dos apelidos do momento. Decore-os: Jenner e Hadid. Kendall, a primeira, que deu nas vistas pela primeira vez ao aparecer no reality show Keeping Up with the Kardashians, e Gigi, a segunda, estrela televisiva de apenas 20 anos, são as mais recentes aquisições. E como festa que é festa não dispensa a música, Selena Gomez, uma das atrações musicais do desfile, usou o Snapchat para revelar o  seu entusiasmo pela participação no evento. Coube a Ellie Goulding render Rhianna, inicialmente escalada para animar as hostes, que ouviram ainda The Weeknd.