Uma portuguesa em Paris: ‘Anda polícia por toda a parte’ [fotos]

“É melhor estarem resguardados. Isto é como os sismos, pode haver réplicas”. As palavras avisadas em português, Margarida Teixeira de Sousa ouviu-as do compatriota e correspondente da RTP em Bruxelas. Destacada pontualmente para trabalhar numa seguradora em Paris, a jovem “não quis estar fechada no hotel” nos Grands Boulevards e saiu ao início da tarde…

“Está tudo fechado. Monumentos, jardins, centros comerciais. E ainda se ouve sirenes por todo o lado”, conta ao SOL no rescaldo do dia seguinte, num país em estado de emergência – uma medida que não era accionada desde 2005, quando houve motins em vários subúrbios de cidades francesas, incluindo Paris.

“Anda polícia por toda a parte, militares com metralhadoras a patrulhar as zonas turísticas. No hotel onde estou muita gente foi embora com medo”, adianta Margarida. O estabelecimento, junto ao Hard Rock Café Paris, já sofre as consequências que provavelmente se multiplicam por outras unidades hoteleiras da capital francesa: informam-na de que “estão a ser canceladas reservas de todo o mundo, até reservas de agosto de 2016!”.

Ontem, sexta-feira 13, Margarida estava a sair do restaurante perto do hotel quando recebeu uma chamada aflita da mãe, de Lisboa. O momento cristaliza-se no registo do telemóvel: 22h37, fuso de Paris, mais uma hora do que Portugal continental. “Não me tinha apercebido de nada, vim logo para o hotel porque vi as pessoas a correr em pânico, sirenes, polícia e ambulâncias a passarem nos Grands Boulevards”.

Fez da receção a base – o quarto estava sem sinal de televisão. A ela e ao colega juntaram-se outros hóspedes para ver as notícias. “Tudo assustado”, espanhóis, americanos, irlandeses, ingleses, um casal português. “Um grupo de espanhóis entrou e não percebeu o que se estava a passar. Perguntaram e ficaram assustados”. Pelo ecrã da televisão foi sabendo o que acontecia em Paris, os ataques em cadeia em diversos pontos da cidade-luz. “Não saí mais. Só se ouvia sirenes, nesta rua estava tudo fechado e já não se via gente”. Na manhã seguinte, percebeu que muitos hóspedes já tinham abandonado o hotel.

Idêntico conselho escutou hoje de um funcionário do hotel, que lhe disse ter recebido a mensagem de um alto responsável da polícia parisiense: “Isto pode ser só o início”, uma ideia que ganha dimensão desde que o Presidente francês classificou os atentados de “ato de guerra”.

Margarida viu pouca gente na rua, hoje a caminho do Bataclan, a cerca de 20 minutos a pé do hotel. Na Praça da República – antes da sala de espetáculos – já “estavam a pôr flores e velas”, numa homenagem às vítimas dos múltiplos atentados, os piores em solo gaulês desde o final da II Guerra Mundial. “Nesta altura a praça já deve estar cheia”.

ana.c.camara@sol.pt