O medo

Eu vivia na Bélgica quando do caso de Marc Dutroux, um criminoso que raptou, torturou, fez filmes pornográficos com algumas crianças, com um total de vítimas, entre raptos, violações e assassinatos de pelo menos onze raparigas, para o que contou com a ajuda da companheira e de um terceiro cúmplice. A Bélgica é um país…

Dutroux foi condenado a prisão perpétua, que cumpre na solitária, até para sua própria segurança: os outros presos poderiam exercer represálias sobre ele.

De qualquer forma, à medida que os detalhes do caso foram sendo conhecidos, o medo instalou-se em Bruxelas. Não se podia olhar para uma criança sem receber um olhar aflito do pai ou da mãe. Depois, isso passou.

Outra vez, por acaso, estive em Paris pouco tempo depois de um atentado bombista numa estação de metro mesmo no centro da cidade. E as medidas de segurança eram pesadas, para assegurar ou intimidar (podem ter qualquer desses efeitos). De qualquer forma, fez-me impressão estar numa estação de comboios rodeado por polícias armados com pistolas-metralhadoras.

Depois, vieram os atentados às torres-gémeas, ao Pentágono e ao avião que acabou por se despenhar, a 11 de setembro de 2001. Mais tarde, os atentados no metro de Londres (não me lembro do ano).

O risco zero não existe. Continuamos a andar de avião e de metro, e a polícia continua a perseguir psicopatas. Deixar o medo instalar-se nas nossas sociedades seria o pior que poderia acontecer, a vitória dos terroristas. Se bem que Portugal, país relativamente pequeno, não seja um alvo primordial, a não ser que conseguissem engendrar algo espetacular.