A eliminação por drone é "um dos motores mais potentes para o terrorismo e a desestabilização no mundo", escrevem os quatro antigos militares, em carta dirigida ao Presidente Barack Obama e a outros dirigentes norte-americanos, publicada no diário britânico The Guardian.
"Não podemos ficar de braços cruzados perante tragédias como esta dos atentados em Paris", acrescentam.
"Os civis inocentes que nós matámos só aumentaram os sentimentos de ódio" na origem do terrorismo e de grupos como o Daesh, escrevem, solicitando ao governo dos EUA que "reconsidere a sua abordagem".
Segundo o jornal britânico, que publica hoje os seus testemunhos, os quatro operadores de drones estão nos 30 anos e saíram da Força Aérea norte-americana ao fim de meia dúzia de anos de serviço, enojados pelo que fizeram.
Três tinham a função de gerir os sensores e sistemas de alvo dos drones em missão e um quarto era um técnico encarregado das infraestruturas de comunicação com os aparelhos.
Um deles, Brandon Bryant, relata um ataque a um grupo de cinco pessoas no Afeganistão, durante o seu sono. Apesar de suspeitas de transportarem explosivos, o ataque não causou explosões secundárias. "Um assassínio cobarde", sintetizou.
No fim do seu serviço, receberam uma pequena carta, em envelope fechado, com o número de eliminações para as quais tinham contribuído. Bryant disse que "cometeu o erro de abrir a sua", relata o The Guardian — "o número era de 1.626".
Segundo a sua carta dirigida ao governo Obama, os remorsos "fê-los todos sucumbir à síndroma do 'stress' pós-traumático", com alguns a tornarem-se mesmo "sem abrigo".
Dois destes ex-operadores participaram no documentário "Drone", da realizadora norueguesa Tonje Hessen Schei, exibido em 2014.
Procurando não reenviar tropias para o terreno, depois das guerras traumatizantes no Afeganistão e Iraque, o governo de Obama aumentou fortemente os ataques com drones nas suas campanhas no Médio Oriente contra a Al-Qaida e, mais recentemente, contra o Daesh.
O sítio de investigação The Intercept publicou recentemente um inquérito em que os EUA são acusados de subestimar o número de vítimas civis mortas pelos drones. Acrescentou ainda que 90% das pessoas mortas por estes ataques aéreos durante cinco meses de operações no Afeganistão não eram os alvos pretendidos.
Lusa/SOL