Ver os bisnetos a crescer

O programa estreou-se na quinta-feira, no 24 Kitchen. Por esta vez abrimos uma exceção e falamos do que perdeu, às 21h, (mas vai poder acompanhar daqui para a frente) ou então ver ‘para trás’. É uma ideia importante e deve ser encarada como tal. Comer comida saudável. Com entusiasmo.

Agora, o cozinheiro britânico Jamie Oliver, que já ganhara o prémio da melhor Ted Talk de 2010 ano com uma palestra muito impressionante sobre os malefícios da má comida no mundo rico, desenvolve um combate a nível mais global contra a comida cheia de açúcares, gorduras e químicos. O programa chama-se 'Jamie Oliver Refeições Saudáveis' e é um passo-a-passo com receitas culinárias onde está refletida a mudança de atitude e de estilo de vida de Jamie. Depois de ter tentado durante sete anos mudar o mundo e salvar vidas, com uma série de programas pedagógicos nas escolas de Inglaterra e dos Estados Unidos, e visitas a lares britânicos e norte-americanos onde encontrou famílias que não sabiam usar um fogão (a comida chegava a casa em pacotes de cartão, pronta a consumir), Jamie começou a revolução por si próprio: mudou o processo, fez uma viagem (interior e ao mundo) e espera com isso atingir mais gente no coração, na cabeça, e no estômago.

Do programa do 24 Kitchen há também uma versão em livro, editada recentemente pela Porto Editora, e nele Jamie confessa que ao aproximar-se da data mágica em que faria 40 anos (começou a pensar nisso um ano e meio antes) percebeu que estava na altura de reavaliar a vida. Depois de pregar a alimentação saudável enquanto cozinhava salsichas (foi criticado por isso) decidiu lutar pela sua própria saúde. A ideia vem de Gandhi: ‘Se queres mudar o mundo começa por ti próprio’; ou das instruções das companhias de segurança: ‘Põe a tua máscara de oxigénio primeiro’. O cozinheiro do Essex, filho do dono de um pub, acredita que assim vai conseguir agregar muitos novos crentes à sua religião.

No livro, Jamie Oliver apresenta logo na introdução uma descoberta que parece simples, mas não é: “Todos lutamos pelos mesmo objetivos: ter uma família feliz e saudável; ser o melhor que pudermos na nossa profissão; manter boas amizades; continuar a experimentar coisas novas; e dar umas boas gargalhadas”. Mas para dar o melhor “deve ter como prioridade máxima a saúde”. É óbvio, mas agora Jamie levou-o muito a sério, e isso nota-se na sua figura. Perdeu uns quilos e diz estar mais feliz e esperar ver os bisnetos a crescer.

O novo projeto (que resultou num novo livro, numa nova série de programas e numa nova atitude perante a vida) começou como um processo muito articulado. Jamie Oliver consultou inúmeros nutricionistas e médicos (incluindo especialistas no sono), aprendeu muito com eles, e mais ainda com as visitas às comunidades de todo o mundo com as maiores esperanças de vida e com mais centenários. Estudou como o que comemos muda o que sentimos e até quanto vivemos. Ele próprio fotografou os pratos, feitos com supervisão de nutricionistas. E garante que qualquer das receitas que apresenta – pode aprendê-las em direto na TV ou no livro – são nutricionalmente equilibradas, divertidas de preparar e, mais importante ainda, deliciosas. Não é preciso comer sempre isto, ele próprio usa em casa as receitas saudáveis de segunda a quinta e depois entra na festa ao fim de semana com 'As Receitas que Nos Fazem Felizes'. Ou seja, confort food, no fundo o conceito tradicional da velha cozinha de domingo, em que as famílias desfrutavam em conjunto de um almoço suculento. Mas procurar o equilíbrio e a comida sobretudo produzida sem químicos e da forma menos industrial possível é um desafio para o resto da vida. E é possível escolher o caminho que se quer, diz Jamie, e ele é um entusiasta que leva multidões atrás.

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