Francisco vai encontrar, no Quénia, Uganda e República Centro-Africana, uma Igreja católica em pleno crescimento, um verdadeiro poder político e social, mas que enfrenta os desafios do islamismo radical e da proliferação de igrejas evangélicas.
As comunidades cristãs dos três países estão na defensiva perante os movimentos 'jihadistas', como as milícias 'shebab' somalianas, nomeadamente após o massacre no Quénia de 150 estudantes na universidade de Garissa em abril do ano passado, e o Boko Haram, entre outros.
Além dos fortes apelos em defesa da coexistência pacífica e do espírito de tolerância tradicional entre cristãos e muçulmanos, Jorge Bergoglio, de 78 anos, vai encorajar os católicos "nas periferias" a comprometerem-se contra a pobreza, exclusão e tráficos, seja em Nairobi, no bairro de lata de Kangemi, em Campala no centro de assistência de Nalukolongo ou em Bangui, junto dos deslocados refugiados numa paróquia.
Um momento muito esperado é a abertura, no domingo, de uma "porta santa" na catedral de Bangui, uma antecipação simbólica de dez dias para África da abertura oficial, em Roma, do "Jubileu da misericórdia".
"Se abrir a 'porta santa' em Bangui, será a primeira vez que um jubileu começa na periferia. É a melhor síntese do magistério deste papa, sempre ao lado dos pobres", disse o padre Giulio Albanese, perito da Rádio Vaticano sobre África.
O Vaticano afirmou repetidamente que vai manter o programa em Bangui, mas a violência entre milícias muçulmanas e cristãs e a insegurança podem obrigar a uma revisão da etapa no último momento.
A etapa centro-africana poderá ser concentrada em algumas horas no aeroporto de Bangui, cuja segurança é garantida pela força militar francesa 'Sangaris', anulando as etapas na mesquita, no coração do enclave muçulmano PK5, num centro de deslocados, no estádio Boganda e na catedral da capital.
Antes, Francisco vai estar na África anglófona, no Quénia e Uganda, dois países em que 32% e 47% da população, respetivamente, são católicos.
No Quénia, que João Paulo II visitou três vezes, tal como o Uganda, primeiro país africano visitado por um Papa (Paulo VI) em 1964, Francisco vai deixar uma mensagem forte contra a desigualdade e a corrupção que domina a Igreja católica: uma vida de luxo, nepotismo e conluio com a classe política corrompida em países como o Quénia, onde a elite concentra a riqueza.
Em Nairobi, o Papa vai ainda discursar na sede do Programa da ONU para o Ambiente e ONU-Habitat, uma intervenção muito esperada de um líder na vanguarda do combate de um desenvolvimento sustentável e ecológico, alguns dias antes do início da conferência sobre alterações climáticas em Paris (COP21).
No Uganda, no santuário de Namugongo, o Papa vai celebrar uma missa comemorativa dos primeiros santos africanos, 22 jovens mártires cristãos, como Charles Lwanga, queimados vivos no final do século XIX por ordem do rei Mwanga de quem eram pagens e recusaram ser escravos sexuais. Foram canonizados por Paulo VI.
Lusa/SOL