É Vice-Presidente do Conselho Executivo da Fundação Comendador Almeida Roque. Fez ainda parte da ADERCUS (Conselho Fiscal), da FUOB (Direção), da Associação Equestre da Bairrada (Conselho Fiscal), Tesoureiro da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração e de Aveiro.
– A vertente inovadora, no mundo empresarial, é crescente e cada vez mais um recurso a que os profissionais de todas as áreas recorrem. Ao longo dos anos trabalhou em várias empresas de renome nacional e internacional. Na sua opinião, quais as melhores estratégias para a diferenciação empresarial, no mercado?
Na minha opinião, e de modo muito genérico, as estratégias de diferenciação têm que passar sempre por uma aposta forte e contínua na inovação, na qualidade do produto/serviço e na criação de uma relação forte com os clientes. Nos dias de hoje, a inovação tem de ser um objetivo constante das empresas, capaz de criar vantagens competitivas dificilmente replicadas pela concorrência. A par disso a qualidade dos nossos produtos/serviços tem de estar adequada às expetativas que criamos nos consumidores, através da comunicação de marketing. Por outro lado, a criação de uma relação forte e empática com os nossos clientes e stakeholders é fundamental, havendo agora formas de comunicarmos de forma personalizada praticamente com cada um dos nossos clientes e potenciais clientes. Como é óbvio, todas estas decisões ao nível da inovação, do produto/serviço e da relação com o mercado, para perceber o que este valoriza e precisa, têm que ser baseadas em estudos de marketing, que sejam capazes de reduzir ao mínimo os riscos inerentes ao negócio.
– Um pouco por todo o Mundo, têm vindo a surgir eventos cujo objetivo final é motivar e ajudar indivíduos com ideias de negócio – como o Startup Pirates, o TEDx ou mesmo programas mais mediáticos e de entretenimento, como o americano Shark Tank. Na sua opinião, qual o impacto que estas iniciativas têm nas sociedades?
Eu considero que têm bastante impacto e prova disso é a quantidade e o sucesso, ao nível de participantes e de audiência, dessas iniciativas. Muitas delas são o click que vai fazer alguém mudar a sua vida ou dar-lhe um rumo, um objetivo. E a quantidade de empreendedores e empresas que têm “nascido” dessas iniciativas é bastante considerável. Ainda assim, é importante avaliar de forma criteriosa essas iniciativas porque a ideia não será criar empreendedores em série. É indispensável transmitir aos jovens que para se ser empreendedor é preciso ter perfil para isso e que não é vergonha nenhuma, nem um atestado de incapacidade, alguém simplesmente trabalhar para outrem. Confesso que receio estar-se a criar a “moda” do empreendedor e que se possa estar a incentivar, de forma irracional e irresponsável, os nossos jovens a arriscarem todas as suas energias e o dinheiro que muitas vezes não têm em projetos que não têm qualquer viabilidade. Podemos estar a criar-lhes um problema gravíssimo que os pode vir a afetar para o resto da vida. O mundo dos negócios, e o dinheiro nele envolvido, é uma coisa muito séria. É preciso coragem, arrojo, capacidade de arriscar e acreditar mas também razão e ciência, percebendo que o insucesso de hoje será o sucesso de amanhã.
– Recentemente, alguns projetos nacionais foram apresentados em Sillicon Valley. Este é um sinal de que o trabalho dos portugueses pode competir com mercados muito maiores?
Claramente que sim! O trabalho dos portugueses, em qualquer área, está ao nível do melhor que se faz no mundo. Por questões culturais e pelos parcos recursos que muitas vezes possuímos, somos constantemente confrontados com problemas que outros povos não têm e isso desenvolveu-nos uma singular capacidade de adaptação, de flexibilização e de raciocínio pragmático que nos faz encontrar soluções que mais ninguém tem sequer a ousadia de procurar. Se acrescentarmos a essas características o pensamento estratégico, o planeamento e a ambição, que é o que está atualmente a acontecer, então somos dos melhores do mundo e não é só nas novas tecnologias mas em todas as áreas.
– Que conselhos daria a um jovem que pretendesse iniciar um negócio?
Os conselhos que posso dar é que, fundamentalmente, reúnam uma equipa coesa, multidisciplinar, tecnicamente competente e alinhada com os objetivos propostos. A par disso, é necessário pensar no modelo de negócio para perceber se a ideia tem viabilidade ou não, nomeadamente se o mercado anseia por esse produto/serviço e se estamos em condições de o fornecer obtendo lucro, para além de outras questões importantes. Por outro lado, é necessário que os jovens percebam se têm essa resiliência, essa capacidade de errar e voltar a tentar, de manter o foco, de aguentar meses e meses sem lucro, sem vendas, sem ganhar dinheiro. Têm que estar preparados para isso.
– Como vê a escolha de Oliveira do Bairro para acolher uma conferência desta natureza?
Vejo com grande satisfação porque é sinal que olham para nós com atenção, tendo em conta o trabalho que a Câmara Municipal tem realizado no âmbito do empreendedorismo, especialmente através da sua participação ativa no projeto da Incubadora de Empresas da Região de Aveiro (IERA). Por outro lado, e sendo esta iniciativa dirigida aos jovens, considero que ela encaixa perfeitamente numa das principais apostas do Município, que é na área da Educação, sendo reconhecido como um “território educativo de excelência”.
– Que condições tem Oliveira do Bairro para a instalação de startups no concelho?
Neste momento, estamos já na fase de aprovação do regulamento do nosso Polo da Incubadora de Empresas da Região de Aveiro, que deverá abrir portas até ao final do ano. Trata-se de um espaço privilegiado para apoio e capacitação de empreendedores que pretendam desenvolver novas ideias de negócio e testar a sua viabilidade. Temos quatro salas de incubação, mais duas salas de co-working, uma sala de formação e um espaço de coffee break, bem como serviços administrativos de apoio. Para além disso, estamos a preparar um pacote de serviços essenciais para o desenvolvimento das ideias de negócio dos nossos empreendedores, que passam por consultoria ao nível da construção do modelo de negócio e também para a área jurídica, comunicação, etc. Trata-se de mais um apoio, este totalmente gratuito, para os empreendedores que estiverem incubados no nosso espaço. Para além disso, podem beneficiar ainda de todo o ecossistema IERA, que passa pelo apoio ao nível do desenvolvimento das suas ideias, do seu negócio, e ainda de constante capacitação e de uma vasta rede de networking, essencial para o sucesso de qualquer organização.
Artigo escrito por Miguel Frade ao abrigo da parceria entre a Conferência 'Começar Hoje o Caminho do Amanhã' e o Jornal SOL.