Israel sentenciou Marcus Klingberg a 20 anos de prisão em 1983, por ter passado informação a Moscovo sobre a sua pesquisa de armas biológicas.
Klingberg foi o vice-diretor do Instituto de Investigação Biológica israelita e conseguiu evitar ser detetado durante anos, até que finalmente foi apanhado, com a ajuda de um agente duplo.
O seu caso foi tão sensível que a sua detenção, julgamento e detenção foram mantidos em segredo durante mais de uma década.
Enquanto estava detido sob um nome falso e em regime de solitária, as questões levantadas pelo seu desaparecimento eram respondidas com a informação de que estava internado num hospital psiquiátrico, "algures na Europa".
A filha, Sylvia Klingberg, disse à agência noticiosa AFP que o pai "foi um comunista que agiu com convicção e gratidão para com o Exército Vermelho, por o ter autorizado a combater os nazis, que massacraram toda a sua família na Polónia".
Marcus Klingberg manteve sempre a justificação de que a sua motivação para espiar era ideológica e não financeira.
Nascido em Varsóvia, numa família judaica ultraortodoxa, Klingberg saiu da Polónia durante a invasão nazi, em 1939, e foi para a União Soviética, onde estudou medicina.
Em 1941, depois de as tropas alemãs terem invadido a União Soviética, alistou-se no Exército.
Quando regressou à Polónia, descobriu que os seus pais e irmão morreram num campo de concentração. Emigrou para a Suécia e depois para Israel, pouco depois da criação do Estado israelita em 1948.
Foi incorporado nos serviços de saúde do Exército israelita, onde atingiu o posto de tenente-coronel e se especializou em epidemiologia, integrando o instituto biológico 'top-secret', localizado em Nes Ziona, a sul de Telavive, em 1957.
As suspeitas israelitas começaram a ficar focadas em si em 1963, apesar de haver sugestões de que a sua espionagem começou muito antes, mas só foi detido 20 anos depois, em 1983, com a intervenção de um agente duplo, com o nome de código Samaritano.
O serviço de informações interno israelita Shin Bet, promoveu-lhe uma viagem ao estrangeiro, mas em vez de ir para o aeroporto, Klingberg foi levado para um apartamento isolado, onde foi interrogado durante dias, até que assinou uma confissão.
Sentenciado a 20 anos, foi colocado em prisão domiciliária depois de ter cumprido 15. Em 2003 foi autorizado a viver com a filha em Paris, onde morreu na segunda-feira, como foi hoje divulgado.
Nas suas memórias publicadas este ano e intituladas "The Last Spy" ("O Último Espião"), Klingberg disse: "O que mais me perturba foi a vergonha e o arrependimento. Não por ter espiado para a União Soviética, não. A minha sensação de humilhação vem do facto de eles me terem quebrado".
Lusa/SOL