A “necessidade” do leilão de venda dos quadros era justificada por razões financeiras, o que sempre me pareceu um fraco argumento. A estimativa de receitas era de 35 milhões de euros. A estes há que retirar os 10% de comissão de leiloeira, sobrando para o Estado 31,5 milhões. Tendo em conta que o Estado português se endivida, atualmente, nos mercados, com o prazo de 10 anos, a cerca de 2,5%, a venda dos quadros e a utilização do dinheiro para pagar dívida pública renderia apenas cerca de 780.000 euros em poupança de juros, o que é praticamente irrelevante no contexto do orçamento de Estado.
O que agora há a fazer é juntar os quadros, usar um edifício que já pertença ao Estado, e expor a coleção. Os rendimentos obtidos, com toda a probabilidade, serão superiores aos obtidos com a hipotética venda dos quadros, pois melhorarão a oferta turística da cidade que tenha a sorte de obter a coleção. É que o turismo cultural tem cada vez mais importância, e não perceber isso é um sinal de incompreensão de mundo em que vivemos, e para onde vamos.
A coleção Miró acabará agora em cima da secretária do ministro da cultura, João Soares. Veremos agora se ele investe na criação desse museu Miró. Como sempre se mostrou favorável à manutenção dos quadros em Portugal, quero acreditar que serão expostos. Porque, para estarem guardados nos cofres da Caixa Geral de Depósitos, não servem para nada.