Uma segunda nota, para a coligação PSD/CDS. É urgente que comecem a fazer oposição a sério, urgente começarem a viver com aquilo que a vida lhes propôs. Parecem aqueles doentes em estado quase depressivo que se levantam de manhã com boas ideias, mas quando enfrentam a rua não suportam a realidade e desesperam por voltar para a cama. Chegam ao Parlamento, veem as bancadas de esquerda e a coisa descamba, ficam com a barriga às voltas. Optem pelos antidepressivos (recomendo o Cipralex), mas comecem a fazer o que já deveriam ter começado.
Quando resolverem a primeira equação terão (segunda constatação) de se separar. O CDS não lucra nada em continuar colado ao PSD, já não faz qualquer sentido Paulo Portas andar a reboque de Passos Coelho. Portas tem de voltar a dar uns concertos a solo, fazer uma digressão e encher umas salas de espetáculo. Tem de ir a jogo e perceber se ainda tem voz e energia para continuar em palco.
Uma terceira nota para os indefetíveis da coligação que, ganhando, perdeu. Continuam a achar que o poder lhes vai cair no colo, que bastará as circunstâncias apertarem para que comunistas e bloquistas ateiem fogo a Roma. Pode ser sim, mas neste momento não é o mais provável. É verdade que, chegado aqui, Costa precisa de tempo – porém, se recuarmos apenas dois meses, o tempo de que ele agora precisa seria o menor de todos os seus problemas. É igualmente certo que existem muitos ‘ses’ no seu caminho, o ‘se’ de Bruxelas, o ‘se’ dos seus aliados parlamentares, o ‘se’ do mercado, dos credores ou do que nunca se consegue prever. Só que Costa já teve muito mais ‘ses’ na sua mesa-de-cabeceira e a verdade é que se sentou esta semana no lugar que o Parlamento reserva aos primeiros-ministros.
Se Costa melhorar em dois anos as condições de vida dos mais desfavorecidos e da classe média, poderá ganhar sozinho as próximas eleições. A questão é outra: onde irá buscar o dinheiro? Com o que se comprometeu no Parlamento, com o que disse que deve ser feito, com o incremento à economia e ao consumo, com a criação e proteção do emprego, com a aposta na educação, ciência e cultura, eu assinaria de cruz este programa político. Mas onde vai buscar o dinheiro? Aumentará os impostos, é certo. Mas que impostos? Quem pagará mais? Os ricos? Mas não há muitos ricos em Portugal. As empresas mais lucrativas? Também não há assim tantas e isso poderá ter consequências na criação de emprego. Onde e como irá fazê-lo? Sem essa questão respondida tudo o que Costa possa dizer (apesar de promissor), é uma meia verdade.
P. S. – Saio da direção do SOL com a absoluta convicção de que o jornal tem futuro. Foi uma honra trabalhar com José António Saraiva e José António Lima. Uma experiência curta, mas que me ficará para sempre. Mário Ramires, que ganhará a sua aposta, e JAS pediram-me que continuasse a escrever, não lhes poderia dizer que não.