Enquanto Pedro Sánchez (PSOE), Pablo Iglesias (Podemos) e Albert Rivera (Ciudadanos) trocavam argumentos, o governante e candidato do Partido Popular, qual encarnação do Homem Invisível de H.G. Wells no debate, apareceu no canal Telecinco, despido de espessas barbas, ligaduras, óculos azuis, golas altas e demais adereços para uma serena entrevista. E dois dias depois, com uma garrafa de Albarinho na mão, o galego bateu à porta de Bertín Osborne, um popular apresentador e cançonetista, para fazer parte do programa da TVE En la tuya o en la mía. Enquanto preparava um prato de mexilhões ou jogava matraquilhos com o anfitrião, e mantinha diálogos banais, lá deixou escapar o que não diria em debate algum, sobre os momentos mais dramáticos “muito, muitíssimo duros” da crise, à laia de um arrevesado pedido de desculpas: “Eu não explicava nada, decerto que me expliquei mal. Tinha mil complicações”.
A estratégia de Rajoy foi condenada pela opinião pública – 69% criticou a sua ausência – e pela opinião publicada, no momento em que arranca a campanha eleitoral para o sufrágio de dia 20, e quando o PP, o PSOE e os Ciudadanos aparecem em empate técnico nas sondagens. A mais recente do El País dá uma décima de vantagem ao PP (22,7%), seguido por PSOE e Ciudadanos com percentagem igual (22,6%). A alguma distância, o Podemos (17,1%), mas que poderá ter um papel decisivo no momento pós-eleitoral.
No debate, que terá sido visto por um quarto dos espanhóis, apresentaram-se os três mosqueteiros da renovação partidária (o quarto, Alberto Garzón, da Esquerda Unida, não foi convidado para o debate).
Segundo um inquérito realizado para o El País, foi Rivera quem melhor esteve (5,9 numa escala de 0 a 10), seguido de Sánchez com 5,8. Pablo Iglesias, que havia sido declarado vencedor do debate numa sondagem online, escapou à justa de nota negativa (5).
Do debate sobressaiu a proposta do líder do Ciudadanos de apresentar um contrato único de trabalho (o que foi duramente criticado pelos outros contendores); a solução referendária de Iglesias, quer para a autodeterminação da Catalunha, quer para decidir um apoio militar contra o Estado Islâmico; e a recuperação do legado do Estado social por Sánchez, que propõe um rendimento mínimo para quem não dispõe de qualquer tipo de apoio e acena com uma “Espanha das oportunidades”. Num cenário de incerteza uma dúvida ficou esclarecida: a fuga de Rajoy, ao contrário da de Bach, não foi arte. E pode ter significado o princípio do adeus.