Coisa bem diferente é perceber qual será o homem a sentar-se no gabinete destinado ao presidente do Governo no Palácio da Moncloa.
Segunda-feira, os meios de comunicação social divulgaram as últimas sondagens que a lei espanhola permite – um diploma que tem sido muito criticado e proíbe a publicação de estudos de opinião nos últimos cinco dias antes das eleições.
Mas ali mesmo ao lado, em Andorra, foi ontem publicada a última de quatro sondagens que começaram a ser realizadas no início da semana. A tendência que revelam é igual à que os espanhóis avançaram: PP à frente, PSOE em segundo, Podemos em terceiro, Ciudadanos em quarto e Izquierda Unida em quinto.
Com uma grande alteração, no entanto. Se na segunda-feira havia uma separação de cerca de 8%, em média, entre o PP e o Podemos, agora essa diferença baixou para 5 pontos. O PSOE mantém-se praticamente inalterado, mas agora tem o Podemos de Pablo Iglesias a 1% dos seus resultados.
Ciudadanos em queda
Outra grande alteração é a queda brutal do Ciudadanos, que chegou a ultrapassar os socialistas nas intenções de voto. Erros do seu mediático líder, Albert Rivera, durante a campanha e uma má prestação no debate a quatro fizeram cair a formação nascida na Catalunha. Em Novembro, a sondagem do El Pais deu-lhe o pico dos resultados (22,6%). Agora, a do andorrenho El Periodic situa-a nos 16 pontos.
A abstenção ainda é grande, na ordem dos 25%. E o ambicioso Rivera ainda não desistiu da vitória, mas já com o se… de responsabilizar os que não votarem amanhã. “Tenho a certeza de que se votarem menos de 80% dos eleitores vai ser muito difícil [ganhar]”, disse ontem em entrevista ao jornal ABC. E passa a explicar a sua estratégia para a vitória: “É por isso que estamos a trabalhar para a participação dos jovens e dos abstencionistas”.
No pólo oposto está Pablo Iglesias, que beneficiou claramente da boa prestação no debate e da moderação do discurso. Em entrevista ao mesmo diário, revelou uma confiança a roçar a presunção. “Gostaria de ter tido mais debates. Se tivesse havido mais poderíamos ter chegado à maioria absoluta. Os cidadãos viram quem está disposto a debater e quem não está [Rajoy fez-se representar nesse debate]. E essa vai ser uma das chaves da nossa vitória”. Não é impossível, mas é muito improvável.
Quem governará?
Várias conjugações permitem um entendimento para que o país não tenha de fazer novas eleições, mas são pouco prováveis porque os maiores partidos não se entendem quanto a economia, as tensões autonómicas na Catalunha e País Basco, e o combate à corrupção recorrente de importantes atores políticos.
A Constituição espanhola determina que o Rei apresente às Cortes um candidato a presidente do Governo. Se for votado por maioria absoluta, está escolhido. Se esta não for alcançada, regressa ao escrutínio do Parlamento em 48 horas. Há Governo se o candidato conseguir reunir uma maioria simples.
Abrem-se aqui várias opções. Para começar, a abstenção de partidos menos votados para deixar passar o vencedor, mesmo que minoritário. E é nesta que Mariano Rajoy aposta. “A posição do PP é a de que quem ganha deve governar. É a vontade do povo e o que sempre sucedeu desde 1977”, disse ontem à saída do Conselho Europeu. “Quem não quer uma coligação de Podemos, PSOE e outros partidos de esquerda, o melhor que pode fazer é dar o seu voto ao PP”, insistiu usando a nova tática de dar mais importância a Iglésias do que ao socialista Pedro Sánchez que, já anunciou, deixou de ser o seu rival.
Outra possibilidade é um acordo entre PP e PSOE. Ontem sugiram notícias que diziam que o atual presidente do Governo a admitia, desde que o líder socialista não fosse Sánchez. Mas rapidamente foi desmentida pelos populares.
Rajoy segue o trilho político de Passos Coelho e Paulo Portas, como Pedro Sánchez segue o caminho do seu camarada António Costa. Se o português disse que “bloco central só com uma invasão de marcianos”, o espanhol ainda ontem insistia: “Querem um pacto PP-PSOE? Não. Mais alto! Nãããão!”.
Novo voto é possível
Uma novidade veio ontem do Ciudadanos. O chefe de gabinete de Rivera anunciou que viabilizaria, pela abstenção, um Governo minoritário do PP ou do PSOE. Mas os seus votos podem não chegar para ultrapassar o bloqueio da restante oposição.
Além dos problemas de Rivera, o murro que Rajoy recebeu não lhe melhorou os resultados na sondagem de Andorra. E a violência com que Sánchez disparou contra o popular no debate a dois só o fez subir ligeirissimamente.
A Constituição diz que os partidos podem tentar formar Governo durante dois meses, repetindo o processo da indicação de um candidato pelo Rei, e passando pelas duas fases de votação.
Se se continuar num beco governativo, Felipe VI dissolverá as Cortes (Parlamento e Senado) e convocará novas eleições.