Mourinho: O balneário é quem mais ordena

O melhor treinador da história do Chelsea vai embora pela segunda vez do clube londrino sem terminar o contrato, após o almoço natalício da equipa e uma reunião de dez minutos com a administração (há oito anos durou seis horas). Done, porque o Natal já não se celebra em Stanford Bridge e o chá das…

A indemnização andava pelos 50 milhões de euros mas a essa teve de dizer goodnight and good luck, como revelou a BBC. Quanto ao valor real que o português vai receber será o respetivo aos salários até ao final da época, que tinham sido renegociados logo após a conquista do seu terceiro título em terras inglesas – a rondar os 16,5 milhões de euros.

Mas como pode o Special One sair assim, com um segundo “mútuo acordo do clube mais próximo do seu coração”? De cara tapada – como suspeitaram alguns jornais – à saída do estádio? Fácil, a armada futebolística pregou-lhe uma rasteira, o árbitro (o bilionário e patrão russo Roman Abramovich) não viu e expulsou o player errado – pelo menos é isso que se discute por estes dias. A médica Eva Carneiro, que foi escorraçada do clube, e os espanhóis Diego Costa e Cesc Fábregas, juntamente com o belga Eden Hazard, que têm tido um desempenho paupérrimo, despediram-se de sorriso amarelo do seu líder.

Havia de facto “discordâncias palpáveis” entre Mourinho e a sua equipa técnica, como afirmou Michael Emenalo, director técnico dos blues à estação oficial de televisão do clube. Palpáveis, como assim? “Sinto-me traído”, foi a última frase pública do setubalense depois de nova derrota com o Leicester (2-1) contra um senhor “velho que não ganhou nada”, e que substituiu em 2004 no comando do Chelsea: Claudio Ranieri. Tudo certo, percebe-se então o tato tático da relação jogadores – Mourinho.

O caos instala-se

Não que este ex-Happy One não tenha feito por isso. O seu estilo arrogante e egocêntrico trouxe-lhe tantas conquistas e o estatuto de Messias porque “os jogadores o adoravam” – palavra de Sir Alex Fergunson na primeira época do português em Inglaterra – mas também muitas inimizades. O seu arqui-rival francês, o treinador do Arsenal Arsène Wenger, deve estar a limpar a cara de tanto chorar de riso.

Durante estes sete meses, além do tal desastroso desempenho desportivo, o seu balneário virou-se contra ele. Tudo começou no campo do Swansea, no primeiro episódio polémico 2014/2016. Hazard estava lesionado, o árbitro pediu para a equipa entrar, e Mourinho saltou do banco para largar impropérios ao fisioterapeuta Jon Fearn e a médica Eva Carneiro. Ela saiu furiosa do clube, processou o português, e dividiu o balneário. Mourinho apelidou-os de “ingénuos e impulsivos”, e foi alvo de um processo disciplinar pela federação inglesa. Acabou ilibado, mas algumas das suas superestrelas nunca mais renderiam o mesmo ao seu lado, sendo encostadas ao banco.

Por exemplo, Diego Costa. A 29 de Novembro o craque hispano-brasileiro viu a sua entrada na partida negada. Fez o aquecimento mas nem tomou o gosto ao pé no empate contra o Tottenham, atirando o colete a Mou. O seu parceiro de seleção, Fábregas, foi acusado de estar a organizar uma rebelião no balneário – desmentida pelo próprio – e admitiu que os três tinham levado “um puxão de orelhas” do treinador. Alguns dias depois, em jeito de desabafo, o ex-Barcelona exultou quando questionado sobre o que pensava desta época: “está a ser f…” desabafou ao diário espanhol Marca.

Falta, claro, Hazard, melhor jogador da Liga na época passada. A 17 de Outubro, frente ao Aston Villa, foi para o banco. Na mais recente derrota, o belga saiu do relvado com uma lesão na anca, e a reação de Mourinho cola de forma perfeita o espírito de desunião que se vivia: “O que sei que é que ele tomou uma decisão individual”.

“Eles têm de pensar que não são as superestrelas, que não são os melhores do ano, que não são os campeões do mundo”, disse Mou este mês. Em Inglaterra já não mora o Messias, ficam os títulos e a tristeza de muitos adeptos.

jose.capucho@sol.pt