José alberto carvalho era o preferido de Sócrates

Só à segunda tentativa o diretor de informação da TVI conseguiu garantir a entrevista.

Há mais de um ano que ‘a’ entrevista de José Sócrates era esperada. Seria a primeira vez que o ex-primeiro-ministro falava ao país depois da detenção, e o momento foi preparado durante meses. Houve várias conversas ao telefone, pelo menos quatro encontros pessoais do socialista com responsáveis da TVI e uma negociação muito intensa do modelo, dos temas, da duração. E do interlocutor. Enquanto se alongava em conversas com a estação de Queluz de Baixo, Sócrates repetia o processo com a SIC.

Todos queriam sentar o ex-primeiro no seu estúdio e a TVI ganhou a corrida. Mas não sem cedências. As mais significativas, em relação ao interlocutor. Em Junho, Sérgio Figueiredo já tinha vivido aqueles episódios de negociação intensa. Na altura, e depois de uma visita a Évora, a conversa com o ex-primeiro-ministro saiu gorada. Sócrates queria falar, mas não gostava das perguntas e também não ia mostrar-se numa posição fragilizada, preso.
Da segunda vez, o diretor de informação precaveu certos bloqueios. Era esperado pelo menos um: Judite de Sousa (Anselmo Crespo seria o entrevistador pensado para os lados de Carnaxide). Segundo fontes da TVI, a pivot acabou por ser preterida em favor de José Alberto Carvalho, um nome que não levantaria objeções do ex-primeiro-ministro.

Críticas nas redes 

Mas logo no pós-entrevista choveram críticas – e todas elas recaíram sobre a mesma pessoa: o jornalista que questionou o ‘animal feroz’ sobre o processo em que é suspeito de corrupção, evasão fiscal e branqueamento de capitais. 

«Vergonha para a TVI», «entrevista nenhuma» e «narrativa socretina» são algumas, entre os milhares de reações, que é possível publicar nas páginas de um jornal.
Mas as críticas não ficaram pelo anonimato das caixas de comentários. No Facebook, Manuela Moura Guedes, uma das jornalistas que mais dores de cabeça deram ao ex-primeiro-ministro, não se conteve nas palavras: «Toca mesmo a comédia a pseudo entrevista para limpeza de imagem de uma criatura mitómana que está mergulhada em sucessivos casos suspeitos de ‘mão na lata’».

Houve quem pusesse em causa a própria independência de José Alberto Carvalho. O pivot da TVI foi acusado de ser «demasiado brando», dando a Sócrates um palco livre – sem questões fundamentais – que o socialista usou para espraiar a sua narrativa. As críticas trouxeram jornalista e diretor de informação a terreiro.
O primeiro, ainda antes da emissão da segunda parte da entrevista, para lembrar que nem «o jornalista não é juiz nem a televisão é o tribunal» e que «a opinião que temos sobre José Sócrates é completamente irrelevante».

O segundo, num artigo de opinião no DN, para defender José Alberto Carvalho: «Um jornalista credível, um homem íntegro, um grande pivot de televisão, o melhor entre os pares, que viveu dias de enorme pressão no ‘antes’ e não se deixou condicionar por juízos intimamente já formados».

Apesar das críticas, as audiências foram o que se esperava: domínio da TVI, com uma média de 1,3 milhões de espetadores.