A estreia do filme que inicia uma nova trilogia e marca uma nova era para Star Wars, depois da venda da Lucasfilm e dos seus franchises à Disney, não foi de grande histeria nos cinemas portugueses. Pelo menos nada que se pareça com o que se passou na estreia oficial em Los Angeles, em que esteve presente o criador George Lucas e de onde toda a gente saiu, escreveu a imprensa internacional, com um sorriso no rosto. «J.J. [Abrams] conseguiu», reagiu o humorista Patton Oswalt no Twitter, onde se liam também comentários como «na mouche» ou «este era o filme que todos os fãs esperavam».
E era mesmo. Por cá, nos cinemas mais concorridos, os bilhetes esgotaram ainda antes da estreia, embora nalgumas salas ainda se conseguia lugar vago para assistir ao regresso de Han Solo e Leia em primeira mão, poucos minutos depois da meia-noite, na quarta-feira à noite. À saída, para quem não tivesse visto, os comentários não deixavam dúvidas: «Parece o primeiro». E pronto, parece que voltámos mesmo a 1977, o ano em que George Lucas lançou a primeira trilogia com Uma Nova Esperança. Quando falamos de Star Wars, voltar às origens não é necessariamente uma má notícia. E Star Wars: O Despertar da Força é mesmo isso.
Durante a semana já se dizia pelas redes sociais que ver o filme era uma experiência «arrebatadora». Na ressaca da estreia, as reações ao capítulo da saga que marcam o fim da era do criador George Lucas para dar lugar a J.J. Abrams não podiam estar a ser melhores. Não só entre os fãs mas também entre os mais críticos. É que J.J. Abrams deu aos fãs aquilo que eles queriam ver e fez um filme com todos os ingredientes para corresponder a às expectativas dos mais geeks. Imbuído do espírito da trilogia que Lucas começou em 1977, a que J.J Abrams assistiu com 11 anos, Star Wars: O Despertar da Força é o melhor regresso possível a essas origens. Por isso pode dizer-se, especialmente para os que ficaram dececionados com as prequelas de 1999 a 2005: preparem-se, porque a loucura voltou. «J.J. did it», já dizia Oswalt.
Os números não mentem: no dia de estreia, o novo capítulo da saga já tinha gerado 50 milhões de dólares em receitas de bilheteira – um bom sinal para a Disney, depois do investimento de 4 mil milhões de dólares na compra da Lucasfilm, em 2012.
Além do novo elenco, destaque também para o papel das mulheres neste Star Wars: O Despertar da Força, como deixou claro o próprio realizador na conferência de imprensa – sem spoilers – que se seguiu à estreia europeia do filme, em Londres. «Desde as discussões iniciais [com o argumentista Lawrence Kasdan] que a ideia da mulher no centro da história era uma coisa que me atraía e me excitava. E não só no centro. Sabíamos que, além de Leia, que foi uma peça fundamental deste puzzle, queríamos ter outra mulher – não necessariamente humana, mas mulher». É aqui que entra Lupita Nyong’o, que faz as personagens de Maz Kanata, a voz da Força, e Phasma, comandante dos stormtroopers.
«Queríamos ter stormtroopers femininos, e pilotos, e tivemos». E é aqui que entra também Rey (Daisy Ridley), que integra o novo elenco com Finn (John Boyega), o stormtrooper negro que tira a máscara e nos deixa ver o rosto. «Quisemos sempre que Rey tivesse um papel central, mas era só uma das coisas que queríamos fazer: que o filme se parecesse mais com o mundo como ele é e como o sentimos», justificou o realizador.
Abrams vs. Lucas
Ainda em Londres, Harrison Ford, que disse estar «muito grato» à imprensa pelo cuidado com a não revelação de detalhes sobre o enredo, mostrou-se surpreendido com a experiência que foi fazer este filme aos 73 anos. «Tive mesmo prazer com esta experiência de uma forma que não tinha previsto. E boa parte dos créditos vai para o J.J. e o Larry. Foi uma experiência rara em toda a minha vida», desabafou o actor no que acabou por ser interpretado como uma crítica implícita ao criador da saga, George Lucas.
Carrie Fisher também não evitou as comparações: «O George era espetacular mas nunca falava. Quero dizer, ele dizia só ‘Mais rápido’, ‘Mais intenso’. Mas [J.J. Abrams] fala muito… e tem muita energia. Não tínhamos energia nenhuma no primeiro filme». E, voltando-se para Harrison Ford: «Foi triste, não foi?». O ator que interpreta de novo Han Solo concordou. E Fisher soltou uma gargalhada, descreve o Guardian, para dizer que Abrams «gostou mesmo de fazer o filme», só não gostou de trabalhar com ela.
De resto, se houve alguma crítica a J.J. Abrams foi a de ter escolhido o caminho fácil e seguro de se manter colado à trilogia inicial, de 1977 a 1983. Mas, respondemos nós, não era isso que toda a gente queria depois das reacções mornas às prequelas de 1999 a 2005?
No segundo teaser do regresso de Star Wars nesta nova era inaugurada pelo co-criador de Lost na Disney, que deverá completar-se com mais dois filmes, víamos Han Solo dizer a Chewbacca, no que se viria a revelar um bom prenúncio, «Chewie, we’re home». E era verdade. J.J. Abrams levou-nos mesmo de volta para casa.