Dois jornalistas do Correio da Manhã (CM) assistentes na Operação Marquês pediram ao Ministério Público (MP) que a ex-mulher e a antiga namorada de José Sócrates, Sofia Fava e Fernanda Câncio, respetivamente, sejam constituídas arguidas no processo. Os jornalistas consideram que ambas tiveram uma participação ativa no crime de branqueamento de capitais de que Sócrates e Carlos Santos Silva são suspeitos.
António Sérgio Azenha e Sónia Trigueirão, os jornalistas que assinam o requerimento entregue na terça-feira, sublinham a importância de Sofia Fava e Fernanda Câncio darem explicações sobre qual a efetiva participação que cada uma teve nos factos imputados pelo MP quer ao ex-primeiro-ministro quer ao seu amigo e empresário Carlos Santos Silva. O requerimento refere que, da consulta dos autos – que lhes estão acessíveis enquanto assistentes no processo –, resultam indícios de que Fava e Câncio podem ter participado ativamente na ocultação do dinheiro de Sócrates.
Casas de 2 milhões e férias de luxo
Mas prestar esses esclarecimentos pode significar, em última instância, a auto-incriminação – considerando-se, no requerimento, que vários atos praticados pelas duas mulheres também podem constituir crime. Por isso, defende-se, deverão ser constituídas arguidas. Este estatuto permite-lhes, se assim entenderem, recusar falar sobre os factos apontados.
As escutas realizadas pelo MP a Sócrates, Santos Silva e Sofia Fava foram determinantes para a obtenção dos indícios que os assistentes no processo consideram incriminatórios.
No caso da ex-namorada de Sócrates, destacam-se provas já recolhidas e que são consideradas um sinal de que forçosamente teria conhecimento profundo dos negócios do o ex-primeiro-ministro e das avultadas quantias de dinheiro à sua disposição.
A forma como ambos falavam ao telefone sobre a possibilidade de aquisição de propriedades é uma delas: uma casa de 2,2 milhões de euros que o casal ponderava adquirir em Lisboa, uma outra casa de 300 mil euros que depois seria explorada, um terceiro imóvel, em Tavira, com o valor estimado em 900 mil euros. Isto além das férias passadas em Formentera, Veneza e Menorca, com valores na ordem de largas dezenas de milhares de euros.
Empréstimos suportados por remunerações ocultas
Quanto a Sofia Fava, são apontadas situações semelhantes.
Segundo o requerimento dos assistentes, constam do processo transferências bancárias de Sócrates para a ex-mulher que levantam suspeitas, bem como empréstimos bancários que esta contraiu e que eram suportados por remessas de dinheiro do ex-marido. Além disso, apontam-se os pagamentos de avenças por empresas de Santos Silva que não constam das declarações de rendimentos de Sofia Fava e ainda os imóveis que esta comprou em Lisboa e no Alentejo (o Monte das Margaridas, em Montemor-o-Novo, que custou 760 mil euros).