Levar o tempo que for preciso

Em França, já lá vai um ano e meio, o ex-Presidente Nicolas Sarkozy foi detido, tendo saído 24 horas depois indiciado por corrupção, por factos de 2007 a 2012 – e até hoje desconhece-se o desfecho. O Brasil prevê julgar Duarte Lima em março de 2016, por um crime de homicídio de que o acusou…

Por cá, vai fazer quatro anos que o Ministério Público (MP) prendeu o gestor bancário suíço Michel Canals, apontado como líder da rede de fraude fiscal Monte Branco – e até hoje prossegue o inquérito, cujo número de arguidos nem se sabe ao certo, mas que envolveu até buscas a figuras como o economista Medina Carreira.

Os inquéritos do Furacão, que renderam ao Estado a recuperação de 160 milhões de euros em impostos, estão agora perto do fim, quase 12 anos passados, enquanto o processo principal do BPN, aquele em que Oliveira Costa é acusado de dezenas de crimes que levaram ao colapso do banco e agravaram a desgraça das nossas contas públicas, fez este mês cinco anos de julgamento (espera-se que termine em 2016, mas fazem-se apostas quanto ao ano da sentença). E o antigo apresentador de televisão Artur Albarran foi absolvido recentemente de uma complexa burla e fraude fiscal enquanto empresário líder do grupo Euroamer, ao fim de cinco anos sob suspeita. Isto depois de ter sobrevivido a um outro inquérito, por suspeita de branqueamento de capitais, pelo qual chegou a ser detido em 2005, mas que o MP arquivou sete anos depois.

"Eu sei que não sou o único, mas eu não sabia disso antes", queixou-se José Sócrates, na TVI, depois de se indignar por ainda não estar concluído o seu inquérito ao fim de um ano. Mas é o único dos arguidos que foi primeiro-ministro e que, em 2006, teve a oportunidade de mudar este estado de coisas, numa conjuntura ímpar de Governo maioritário e uma oposição disponível para entendimentos neste setor. Só que, em vez de dotar a Justiça de meios a sério, na altura pouco mais quis saber do que de regimes de exceção, nomeadamente em matéria de escutas telefónicas para altos cargos políticos, como o dele. Deste ponto de vista, continua igual a si próprio, mas não se queixe.

À procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, cabe ter nervos de aço, fazer uma gestão hábil dos parcos recursos e levar o tempo que for preciso, de uma forma realista, para recolher todas as provas possíveis, contra e a favor de Sócrates, como é dever do MP. O que não pode acontecer na Operação Marquês é o mesmo filme do Freeport, arrastado durante anos por receio de se tocar num primeiro-ministro e encerrado à pressa numa nuvem de dúvidas.

paula.azevedo@sol.pt