As muletas de António Costa

Muito mais cedo do que todos esperavam, o Governo de António Costa precisou do apoio do PSD.

Caso este não se abstivesse na votação do Orçamento Retificativo para solucionar o problema do Banif, Costa ficaria numa situação dificilmente sustentável, entalado entre a extrema-esquerda e Bruxelas.

Situações em que o PS, o PCP e o BE não se entendam vão ocorrer muitas vezes, produzindo um constante desgaste nas relações entre os três partidos.

O Banif não será um caso virgem.

E veio provar uma evidência: por mais declarações de amor que façam, o Partido Socialista, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda continuam em lados diferentes da barricada.

O PS acha inevitável obedecer a Bruxelas (que impôs a rápida resolução do Banif), o PCP e o BE acham o contrário.

Como é óbvio, o Governo de um país capitalista não pode estar dependente do apoio de partidos comunistas.

É como pôr a raposa a guardar o galinheiro.

Costa pode ser muito hábil a fazer acordos políticos – mas isto não é uma questão política, é uma questão de modelo de sociedade, e não é possível pôr de acordo adeptos da sociedade de mercado e aqueles que a querem derrubar.

A questão da TAP vai ser outro bico-de-obra.

Para satisfazer o PCP e o BE, António Costa disse em Bruxelas uma coisa extraordinária: que o Estado recuperará a maioria na TAP a bem ou a mal.

Ora, nem Varoufakis diria melhor.

Esta insistência na reversão do negócio é uma parvoíce.

Porque nenhum privado aceitará ficar com 49% de uma companhia como a TAP.

Algum investidor estará disposto a ficar em posição minoritária numa empresa na qual não pode fazer nada e que dá enorme prejuízo?

Estará lá para quê? Para repartir as perdas?

Não brinquemos!

A proposta feita pelo Governo aos novos donos da TAP é inaceitável – e eles já o disseram.

O caso da TAP é um exemplo de voluntarismo político no seu pior.

A tensão entre os partidos da esquerda vai subir de tom.

A propósito do Banif, o Partido Comunista veio de novo exigir a nacionalização da banca e o Bloco de Esquerda voltou a insistir na reestruturação da dívida.

Ora, mesmo que Costa aceitasse isso para agradar aos parceiros, muitos socialistas não o aceitariam.

O PS voltaria a agitar-se internamente.

Os que criticaram a maioria de esquerda, como Francisco Assis ou João Proença, e que hoje estão calados que nem ratos, voltariam à ribalta se António Costa começasse a ceder em toda a linha ao PCP e ao BE e entrasse por um caminho aventureirista.

Até porque as exigências do PCP e do BE, além de impraticáveis, são absurdas neste contexto.

Faz algum sentido, a propósito do Banif, exigir a nacionalização da banca?

Mas o Banif já não era maioritariamente do Estado?

Parece que os comunistas se esqueceram deste pequeno pormenor…

E o facto de ser maioritariamente do Estado não evitou perdas de 3 mil milhões de euros, superiores àquelas que o Estado poderá ter no BES.

Ou seja: um pequeno banco como o Banif, cem vezes mais pequeno do que o BES, poderá implicar perdas maiores para os contribuintes.

De que serviu ser do Estado?

Pelo contrário: ser do Estado piorou as coisas.

E este exemplo valerá também para a TAP.

Ao querer reverter o negócio da TAP, o Governo poderá estar a meter-se num tremendo trinta e um: além de o Estado não garantir uma boa gestão, os prejuízos arriscam-se a ser enormes.

O caso Banif, que a esquerda tem tentado aproveitar a seu favor, volta-se ironicamente contra ela, num efeito de boomerang.

Para já, mostrou que o PCP e o BE podem tornar-se de um momento para o outro uma ameaça para o Governo.

Por estranho que pareça, os grandes aliados do Governo socialista, neste momento, são Bruxelas e o PSD.

Eles é que podem evitar grandes asneiras ou atos suicidas – que António Costa teria de cometer caso dependesse por inteiro do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda.

E, nesta medida, pode dizer-se que o Governo durará até quando o PSD quiser.

 

P.S.A morte de um homem de 29 anos no Hospital de S. José provocou ondas de indignação. Justamente. Muitos atiraram as culpas para os cortes feitos por Paulo Macedo na Saúde. Mas será que, sem esses cortes, o homem ter-se-ia salvo? Nunca ninguém tinha morrido nos hospitais do Estado por falta de meios? E, mesmo com os meios existentes, os responsáveis do S. José não poderiam ter salvo o homem? Não estarão a sacudir a água do capote? Daqui para a frente, sempre que morrer alguém num hospital, vão atirar-se as culpas para Paulo Macedo e para o Governo anterior? Haja um mínimo de lucidez…

jas@sol.pt