Marques Mendes sobre o Banif: ‘Isto está muito mal explicado e é muito suspeito’

O Governo atual e também o Executivo anterior têm muitas explicações para dar sobre todo o processo que culminou no fecho do Banif e a venda da parte ‘boa’ do banco ao Santander, defende Marques Mendes. 

No comentário de domingo à noite, na SIC, Mendes apontou uma série de factos que levantam dúvidas e questões que, na sua opinião, devem ser respondidas com urgência. Além disso, defendeu que, a par da comissão parlamentar de inquérito que está em preparação, “já devia estar nomeada uma auditoria externa independente para averiguar tecnicamente essas questões”, manifestando-se “surpreendido” por o PSD e o Banco de Portugal ainda não terem tomado nenhuma iniciativa neste sentido.

Perguntas para Passos e Maria Luís…

Em 2013, lembrou o comentador, o Governo de Passos Coelho colocou um total de 1.100 milhões de euros no Banif, para evitar a falência. “Mas como é que o Estado não tem um administrador executivo sendo o maior acionista? É uma questão que o Governo anterior tem de explicar”, defendeu, interrogando-se ainda como foi possível apresentarem-se oito projetos de restruturação do banco e nenhum ter vingado. “Ninguém dá uma explicação? Foi por desleixo ou incompetência?”.

O ex-primeiro-ministro e a ex-ministra das Finanças deveriam ainda explicar por que é que o concurso de venda do Banif não se fez logo no início do ano, em vez de em dezembro, sob ultimato do BCE. “Enquanto isto não for explicado, é-se levado a pensar que o Governo anterior adiou por uma questão eleitoral”.

… e para Costa e Mário Centeno

Para o atual Governo, sobram as questões relacionadas com a venda. Nomeadamente, porque é que foram aceites a concurso, além do Santander e do Banco Popular, “quatro fundos” que entretanto foram excluídos “aparentemente por não terem licença bancária” – um dos quais o americano Apollo, finalista no concurso para a compra do Novo Banco (venda entretanto adiada). “Mas, se não tinham licença, então por que é que os fundos foram admitidos a concurso? E o fundo Apollo servia para comprar um grande banco e não serve para um pequeno como o Banif? Isto esta muito mal explicado e é muito suspeito. Ainda por cima, eu soube que, dos dois candidatos que ficaram, o Banco Popular desistiu”, salientou Mendes.

“Eu não quero lançar nenhuma suspeita nem estou a dizer que tudo isto não é sério, mas é tudo muito pouco ortodoxo e a explicação ainda não foi dada”.

PSD e Maria Luís ‘andaram muito mal nestes dias’

Sobre a resolução do Banco de Portugal, Marques Mendes criticou o facto de o esforço total recair sobre os contribuintes. E lembrou o passado recente: “No ano passado, na resolução do BES, decidiu-se que era o sistema financeiro que pagava. Aqui é o Estado. O que mudou? Sabemos que mudou o Governo e já li até que foi o ministro das Finanças que deu uma indicação nesse sentido. Não sei se é verdade e convinha explicar”.

As duras críticas estendem-se à oposição e à ex-ministra das Finanças. “O PSD andou muito mal nestes dias. Devia ter tido uma atitude diferente: apoiar a resolução sim, mas esclarecer o passado e exigir respostas. Já Maria Luís Albuquerque deu uma entrevista a uma televisão que foi um desastre: ora não sabia, ora não tinha informação. Se é assim, primeiro habilita-se, senão não dá entrevistas. Parece que anda aqui ‘a fugir com o rabo à seringa’, como diz a expressão popular”.