À medida que esta edição do B.I. ganhava forma, pensei – imbuída pelo espírito da quadra – dedicar este espaço ao Natal e à forma como inevitavelmente somos tomados de assalto por uma espécie de crise existencial à medida que se aproxima o final de mais um ano. 

É época de balanços, de desejos, de votos, de promessas. Mas exatamente na mesma altura em que pensava nisto, choquei de frente – eu e penso que a grande maioria dos portugueses – com duas notícias que marcaram a atualidade noticiosa do nosso país nesta semana de Natal. Por um lado, a forma como o Estado voltou a ser um salve-se quem puder de mais um banco, neste caso o Banif. E quando aqui se escreve Estado, entenda-se todos nós. Por outro lado, a forma como o jovem David Duarte, de 29 anos, foi deixado à sua (infeliz) sorte no hospital São José, em Lisboa, tudo porque ao fim de semana não existia uma equipa de neurocirurgia disponível para o operar a um aneurisma.

Todos temos responsabilidades nestas situações. Porque todos nós temos responsabilidades no nosso país. E estamos há tempo demais a demitirmo-nos dessas responsabilidades, para apenas de vez em quando despertarmos desta letargia, postarmos violentamente algumas linhas numa qualquer rede social, e logo de seguida voltarmos a hibernar descansados nas nossas vidinhas.

São estranhos estes tempos. E é estranho um país onde sucessivamente se usa dinheiro de todos nós para salvar entidades bancárias. Dinheiro esse que sai das mais variadas áreas… como a educação e a saúde. Estranho país este onde se salvam bancos, mas morrem pessoas. Por guerra política. Por disputas financeiras. Ou por mera estupidez.