Em janeiro, pouco mais de cinco anos depois de assumir a liderança do Syriza, que até então tinha como melhor resultado os 5% obtidos em 2007, Alexis Tsipras foi eleito primeiro-ministro da Grécia.
Fê-lo graças às promessas de combate à austeridade e de devolver ao país uma independência que há muito perdera para os credores externos.
No simbolismo dos primeiros dias, recontratou os empregados de limpeza do Ministério das Finanças que há meses protestavam no local contra um despedimento indigno e retirou as barreiras que preparavam a praça Sintagma para as constantes manifestações. Mas também subiu o salário mínimo para 751 euros, aboliu as taxas na Saúde e devolveu pensões, entre outras promessas eleitorais de efeito imediato.
Gestos tidos como provocatórios para uma Bruxelas já desconfiada da esquerda radical e para uns credores a quem Tsipras pedia mais tempo para pagar a dívida e para negociar novo acordo de financiamento. Um mês depois da vitória, o grego foi avisado que o BCE deixaria de aceitar títulos de dívida pública como troca de garantias de liquidez.
A conduta do ministro das Finanças, um Yanis Varoufakis que fez questão de quebrar com todas as regras e costumes do Eurogrupo, não facilitou uma negociação que já se esperava difícil.
Após meses de um extremar de posições, Tsipras surpreendeu ao falhar um prazo de pagamento de dívida para convocar um referendo sobre a aceitação da última proposta recebida em Bruxelas. Apelou ao OXI que rejeitava o novo acordo. E ganhou.
Não resultou e o cada vez mais inevitável Grexit ameaçava arruinar um país já em crise profunda. Sem mais cartas na manga Tsipras deixou cair Varoufakis, assinou o acordo que diz ser menos mau e evitou um regresso caótico ao dracma.
O caos instalou-se e precisou dos votos dos antigos partidos da austeridade. A esquerda da esquerda do Syriza desertou e Tsipras demitiu-se. Foi a votos prometendo cumprir a melhor versão de um programa mau. E ganhou.
Já cortou pensões, aumentou a idade de reforma e impostos. Também já enfrentou a primeira greve geral mas, para já, Tsipras vai resistindo à sua própria transformação.