Portas: mais anos na liderança do CDS? Isso não seria ‘politicamente desejável’

Paulo Portas confirmou esta madrugada que não se vai recandidatar à liderança do CDS-PP. O antigo vice-primeiro-ministro disse não estar “preocupado” com o futuro do partido, deixando um recado simples aos militantes do CDS: “não tenham medo, confiem”.

“Ordenadas as prioridades, chegou o tempo do partido pensar no seu futuro e no que pode fazer por Portugal”, disse aos jornalistas, no final da reunião da comissão política do partido. Portas disse que a sua saída não deve ser vista “como um problema, mas como oportunidade. [Uma saída] Que traz renovação e não continuidade. Que vai permitir ao CDS renovar a sua liderança, repensar a sua estratégia, recomeçar a sua luta, refletir num novo projeto”.

“Tenho há muito tempo uma grande esperança na nova geração do CDS e acho que chegou o tempo de lhes dar grandes responsabilidades. Vou a caminho de liderar o CDS há 16 anos e dou hoje como terminado esse ciclo de liderança e essa etapa na minha vida. Não serei mais candidato à presidência do partido e no 26º congresso do partido passarei o testemunho”, afirmou.

Paulo Portas não adiantou pormenores sobre a pessoa que o sucede à frente do CDS-PP: “O partido fará, com toda a isenção da minha parte, uma escolha de futuro”.

Portas apresentou as três razões que o levaram a tomar esta decisão. A primeira foram os anos de liderança: “Quase 16 anos de liderança de uma instituição é tempo que baste. Não quero que o exercício da autoridade por demasiado tempo me faça perder a exigência comigo próprio e com os outros. É honesto estar consciente de que se me candidatasse teria de estar disponível não para um mandato de dois anos, mas para vários mandatos de vários anos – os da oposição, os da reconquista e os de regresso do centro-direita ao poder, caso o povo português quisesse. Isso levaria a minha liderança para lá dos 20 anos e, com toda a franqueza, isso não é politicamente desejável”, afirmou, ressalvando que se as eleições de 4 de outubro tivessem resultado num governo de coligação, teria “aberto a sucessão” do CDS-PP.

A segunda razão apontada por Portas foi a “esperança” que deposita nos mais novos do seu partido. “Sempre puxei pela nova geração do CDS. Sempre puxei e dei destaque a quem tinha mérito no meu partido. Quis que a nova geração do CDS tivesse oportunidade de mostrar o que valia e tivesse experiência de Parlamento, experiência de administração e experiência de governo, porque no fim do dia é isso que conta. (…) Estou convencido que o CDS tem neste momento a melhor e mais preparada geração de políticos. (…) Confio na maturidade, responsabilidade e no sentido institucional do partido, das suas estruturas e dos seus militantes”, frisou.

Por último, Paulo Portas falou nos desafios que se adivinham para o centro-direita, dizendo que “depois do que aconteceu a 4 de outubro, nada ficará como antes”. “O centro-direita só voltará a ser governo em Portugal com maioria absoluta de deputados – qualquer outro cenário é um risco fatal, como a experiencia recente mostra. O CDS e o PSD vão ter de pedalar, inovar e crescer muito. Deixou de ser determinante quem vence eleitoralmente o sufrágio, o que conta é, como se viu, quantos deputados somam e (…) a compatibilidade entre programas”, disse.

Depois de agradecimentos ao presidente do PSD e aos militantes do seu partido, Paulo Portas terminou o seu discurso com três pequenas frases: “Sei que este momento não é fácil, mas acabaria por chegar. É tempo de passar o testemunho e faço-o com toda a naturalidade. Não tenham medo, confiem, o CDS vai ser capaz”.