Foi dos poucos jogadores que representou os três grandes. Qual deles o marcou mais?
O Sporting, claro, o clube onde fui criado e aprendi a ser jogador. Era o meu maior sonho e isso foi conseguido. O FC Porto também me marcou, pelos tempos em que joguei e fui campeão e pela oportunidade de jogar a Liga dos Campeões. É um clube fantástico. Tive três anos excelentes.
Sobra o Benfica…
As coisas não me correram bem e não foi fácil a minha passagem pela Luz. As pessoas não se identificaram comigo e eu com o clube. Tive também um treinador complicado na altura, apesar de ser um grande treinador: Sven-Goran Eriksson. Nunca me consegui impor.
Como foi regressar a Alvalade, o clube do coração, com a camisola do Benfica e FC Porto vestida?
Foi estranho e complicado. Fui com nove anos para o Sporting e saí de lá com 22. São muitos anos. A forma como me receberam não foi a melhor, mas é compreensível. Eu era profissional e defendi o clube em que estava na altura. Ninguém tem nada a dizer de mim.
Mas sofreu algum tipo de represálias?
No FC Porto não, que foi mais tarde, mas quando troquei primeiro o Sporting pelo Benfica as coisas não foram fáceis. Tive de trocar de carro, fui alvo de ameaças e quiseram bater-me, os meus pais recebiam telefonemas em casa…
Jorge Jesus também trocou de morada na Segunda Circular. Foi uma decisão acertada?
Acabou o contrato com o Benfica e não quiseram renovar. Ir para fora só para um clube de grande dimensão, mas Jesus acabou no Sporting, que também é grandíssimo, e tem a oportunidade de deixar a sua marca. No lugar dele faria o mesmo.
Contra qual dos grandes sentiu uma rivalidade maior?
O FC Porto. Eram bons, o melhor clube português da altura, em termos de conquistas, e era terrível jogar contra eles.
Acabou por sentir na pele as consequências.
No meu primeiro ano de sénior, ainda o João Rocha era o presidente do Sporting, partiram-nos o autocarro todo no regresso a Alvalade depois de um jogo nas Antas. Eram só pedradas, tivemos que pôr plásticos nos vidros e escondermo-nos debaixo dos bancos.
Hoje joga-se mais um clássico, entre Sporting e FC Porto. Quem parte em vantagem?
O Sporting, porque apesar de ter perdido a liderança no último jogo como União da Madeira, joga em casa, é uma equipa forte e está confiante. Tem todas as hipóteses para vencer este jogo. Mas não vai ser fácil. O FC Porto tem jogadores fortíssimos, apesar de não ter uma grande equipa neste momento.
Que jogadores podem decidir o jogo?
Aboubakar ou Slimani, o Adrien que está a fazer uma excelente época, o Herrera que entrou muito bem nos últimos jogos, o Brahimi… Normalmente são estes tipo de jogadores que resolvem os clássicos.
E na tribuna presidencial, quem ganha o duelo?
O Bruno de Carvalho, que depois deste contrato que assinou com a NOS por 515 milhões de euros está mais moralizado do que o Pinto da Costa. Até aí o Sporting tem uma ligeira vantagem.
Arrisca um palpite para o resultado final?
1-0 para o Sporting. É o que basta (risos). O que interessa são os três pontos.
Julen Lopetegui pode ser despedido se perder em Alvalade?
Ele já tem o lugar em risco há muito tempo. Não é de agora. Deve ser dos únicos treinadores do FC Porto que tem tudo o que quer, olhando para o investimento feito. O presidente Pinto da Costa dá-lhe os jogadores todos. Tem um orçamento de 90 milhões de euros e ainda não ganhou nada. Apesar do presidente o querer aguentar, se perde em Alvalade as coisas podem complicar-se.
O regresso ao Dragão pode ser bastante atribulado.
Não vão ser os mesmos lenços brancos de quando perdeu com o Chelsea ou com o Marítimo. As pessoas no FC Porto são exigentes e gostam de bom futebol, de ter bons jogadores mas que sobretudo se identifiquem com a camisola. E isso já se perdeu, tal como aquela mística e a garra de outros tempos. As coisas não estão a dar resultado.
E um triunfo deixa o Sporting mais próximo do título?
Pode ficar mais perto, mas faltam muitos jogos ainda. Há uma semana o Benfica estava afastado da corrida ao título e com a derrota do Sporting regressaram à luta. Com um empate no clássico ainda se podem aproximar mais.
Isso quer dizer que o Benfica pode ser o último a rir no Clássico?
Eu sempre disse que o Benfica não estava assim tão mal como faziam parecer. Têm grandes jogadores, um treinador novo e têm conseguido ganhar os seus jogos, embora com algumas dificuldades. Estão na luta.