A história de Lili Elbe, nascida Einar Wegener, na Dinamarca, um dos primeiros casos conhecidos de transexualidade, que, no início da década de 1930, se submeteu a uma operação de mudança de sexo, ganha vida sob os comandos do realizador Tom Hooper numa adaptação da novela de David Ebershoff. Mas mais do que o realizador d’“O Discurso do Rei”, é mesmo Redmayne que salva o filme, que lhe confere profundidade. Aliás, o ator inglês de 33 anos é unanimemente bom na sua interpretação, enquanto o filme parece ser unanimemente frustrante.
Mas o ex-aluno do Colégio de Eton, colega do príncipe William, e formado em História de Arte pela universidade de Cambridge parece não estar muito interessado no título de salvador de filmes. Redmayne quer é que a sua interpretação em “A Rapariga Dinamarquesa” possa ser vista como um marco para a comunidade transgénero de todo o mundo – no mesmo ano em que Bruce Jenner se assumiu como Caitlyn, uma atitude que Redmayne elogiou como “extremamente corajosa”. “Espero que este filme ajude estas pessoas a terem uma vida melhor”, disse ao “The Telegraph”.
Até porque há muito para atingir neste tema, numa altura fulcral nas questões ligadas aos direitos humanos das minorias. O primeiro passo é claro: o combate à ignorância. Que vem de todos os lados. Até do próprio Redmayne: “Quando comecei a preparar este filme a minha maior ignorância era achar que género e sexo estavam relacionados. Esta é uma das coisas que quero mostrar ao mundo: podes ser gay ou hetero, transexual homem ou mulher. Estas coisas não estão necessariamente alinhadas.”
Uma escolha difícil
Apesar de Redmayne se ter apaixonado pelo guião deste filme, a escolha não foi fácil para o realizador Tom Hooper, muito criticado por não ter optado por um ator que fosse efetivamente um transexual. Uma decisão influenciada pelo estado atual da indústria. “É fundamental que os atores transexuais tenham acesso aos papéis. Atualmente temos um grande problema na indústria do cinema: existe muito talento mas poucas oportunidades para estas pessoas”. Apesar de preferir não alimentar polémicas, Hooper defende-se dos críticos: “Lili é apresentada como homem durante dois-terços do filme, a mudança só acontece bastante à frente, e isso influenciou bastante a minha escolha. Além de que há algo no Eddie de muito feminino”.
A verdade é que Eddie Redmayne assumiu esta causa. Queria fazer este filme. Contra tudo e contra todos. “Toda a história era nova para mim. É uma incrível, apaixonada e única história de amor”. Para entender melhor uma realidade que lhe era estranha, reuniu com transexuais, ouviu as suas histórias, pessoas de diferentes gerações. De um dos casais que o ajudou a preparar-se, Cadence Valentine e Trista Hidalgo, de Los Angeles, ouviu algo que, diz, não esquecerá: “A Cadence disse-me que deu tudo para poder viver uma vida autêntica.”
Treze anos depois de se ter estreado no teatro profissional com a peça “Twelfth Night”, de William Shakespeare, no palco do Globe Theatre, em Londres, Eddie Redmayne é Lili Elbe. Curiosamente, na sua estreia também interpretou uma mulher, Viola.