Henrique Neto: entre o populismo à Marinho Pinto e o Nostradamus da Marinha Grande

1.Henrique Neto tem um percurso pessoal exemplar: nascido na Marinha Grande, subiu na vida a pulso, com muito trabalho e dedicação. Criou uma empresa na área dos moldes, depois de perceber, com a sua intuição empresarial, que a indústria do vidro não tinha futuro (como conta Filipa Moreno, no livro “Henrique Neto – o Estratega”,…

2.Todos os dias, os portugueses, pelo seu trabalho e pelas suas escolhas, defendem a liberdade – aprofundam a liberdade. É preciso ajudar a construir uma ideia de normalidade na liberdade ou de liberdade na normalidade da vida – e matar, de uma vez por todas, o fantasma, o trauma do salazarismo e do autoritarismo. Já chega! Basta! Que diabo: passaram quarenta anos! Somos profundamente anti-autoritarismo: todavia, o fantasma do Professor Oliveira Salazar tem sido usado pelos políticos em Portugal para branquearem as suas responsabilidades no estado a que chegou o Estado português. Não, a culpa da bancarrota e da troika não foi de Oliveira Salazar, nem do regime anterior ao 25 de Abril: foi deste Partido Socialista e de José Sócrates, já para não falar do actual Presidente da República que levou durante muito tempo, Sócrates ao “colo”.

3.Posto isto, e deixado de lado o mérito profissional e empresarial de Henrique Neto, temos de admitir que a sua candidatura presidencial é um enorme vazio político. Todavia, não iremos criticar em demasia esta candidatura. Por uma razão simples: neste caso, temos de ponderar o lado humano – Henrique Neto está, neste momento, a fechar a sua carreira política, que teve muitos baixos e poucos altos. Neto tem uma visão de si próprio muito favorável e entende que tem qualidades políticas e pessoais não partilháveis por qualquer outro ser humano – por isso, nunca compreendeu a razão pela qual nunca conseguiu vingar as suas posições e a sua pessoa no Partido Socialista. Henrique Neto teve o sonho, nunca escondido, de substituir Mário Soares no PS – e ter o lugar na História que Soares tem e terá. Isto explica que a sua candidatura, não poucas vezes, pareça um acto de vingança ou de ajuste de contas de Henrique Neto com o seu partido (apesar de crítico, nunca deixou de ser militante do PS!) e com Portugal. Henrique Neto quer, com esta sua candidatura, ser conhecido pelos portugueses. Deixar alguma marca, por pouco significativa que seja.

4.Como candidatura presidencial, no entanto, Henrique Neto enganou-se no estilo e na estratégia de campanha. Por três razões essenciais:

1) Henrique Neto quis, a um tempo, alegrar a sua família política de esquerda – e, por outro lado, apanhar os “despojos de guerra” à direita, ou seja, apanhar a direita ultra-conservadora que não se revê na moderação de Marcelo Rebelo de Sousa. Resultado: não agrada nem a uns, nem a outros. Não agrada ao PS, porque assumiu um discurso claramente contrário ao acordo de esquerda, atacando o Partido Comunista e até o Primeiro-Ministro, António Costa. Não agrada à direita, porque a sua solução seria um Governo de Bloco Central, liderado por António Costa com Passos Coelho a servir de cicerone. Para quê? Para daqui a alguns meses, dissolver a Assembleia da República e dar de bandeja o Governo a António Costa e substituir, por consequência, Passos Coelho por Rui Rio na liderança do PSD (pessoa a quem, aliás, Henrique Neto dirige elogios constantes e diz que será um excelente Primeiro-Ministro). Ontem, em debate na SIC Notícias, Neto conseguiu, no espaço de quinze minutos, dizer uma coisa e o seu exacto contrário: por um lado, afirmou que é contra a política de facilitismo e de devolução dos salários; por outro, afirmou que António Costa fez muito bem em devolver os cortes salariais aos portugueses, sobretudo aos funcionários públicos. Em que ficamos? Portanto, a candidatura de Henrique Neto, ao querer agradar a Deus e ao Diabo, é um jogo de soma nula. Um nada. Um zero político;

2) Henrique Neto quer fazer valer-se do seu passado que ele apelida de “anti-fascista” e do seu combate a favor da descriminalização do aborto para conquistar votos. E ataca os seus adversários pelas suas omissões neste particular. Sucede, porém, que Henrique Neto tem no seu “núcleo duro” político o militante da ala mais radical do CDS, José Ribeiro e Castro. Ora, Ribeiro e Castro é um adversário feroz da despenalização do aborto, sempre foi a favor da criminalização das mulheres que praticam o aborto e parece que, em 1973, ainda defendia o regime de Marcello Caetano (o que, para nós, é absolutamente irrelevante: o tempo sara as feridas). Ora, como pode Henrique Neto atacar um seu adversário nestas eleições por escrever cartas (críticas) a Marcello Caetano, quando o seu principal conselheiro político e apoiante teve um passado muito mais pró- Estado Novo do que esse adversário político? Nada bate certo na candidatura de Henrique Neto. Para ele, a candidatura é uma actividade lúdica – uma forma de passar tempo. Só isso explica tamanha incoerência!

3) Henrique Neto está a cair na situação ridícula de querer assumir-se como o “Nostradamus” da Marinha Grande. Nostradamus tentou antecipar o futuro do mundo e falhou sempre ou quase sempre – Henrique Neto tenta prever e antecipar tudo, e não é líquido que acerte. Pelo contrário! Portugal ia entrar na bancarrota -Henrique Neto diz que já o previu há vinte e cinco anos e escreveu sobre essa previsão. Uma figura como José Sócrates ia assumir o poder em Portugal – Henrique Neto diz que já escreveu sobre isso há vinte e cinco anos e escreveu sobre isso. O José Carlos Malato ia engordar e depois emagrecer – Henrique Neto já o previu há vinte e cinco anos e escreveu sobre isso. A Cristina Ferreira ia lançar uma revista social – Henrique Neto já o previu há vinte e cinco anos e escreveu sobre isso. Nós propomos que, como Neto terá uma derrota estrondosa no próximo dia 24 de Janeiro, se aproveite a experiência adivinhatória do candidato para o Europeu de Futebol deste ano, a realizar-se em França: Henrique Neto bem poderá substituir o polvo que adivinha os resultados dos jogos. Ou então substituir a taróloga Maria Helena, no seu programa matinal de tarot, mas manhãs da SIC…Portugal descobriu, finalmente, o seu “Nostradamus”. Chama-se Henrique Neto e nasceu na Marinha Grande, essa localidade maravilhosa e com um Povo soberbo!

5.Por todas estas razões, parece-me risível o cenário avançado por alguma imprensa de que há sectores da direita que poderão votar em Henrique Neto. Tirando a direita ultraconservadora do grupo de Ribeiro e Castro, o espaço político moderado – do centro-direita e do centro-esquerda- está convicto e determinado no seu apoio ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa. A direita não é estúpida – a direita sensata e moderada (claramente maioritária em Portugal) defende sempre o interesse superior da nossa Pátria – o que passa pela determinação no apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Sem hesitação. Com convicção. Os votos do centro-direita irão para Rebelo de Sousa- não há hipótese nenhuma de Neto poder crescer neste espaço político.

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